Monday, December 12, 2016

Mentes brilhantes!

Resultado de imagem para brilliant kids, clipart     Ao chegar a casa, o Pedro despachou os TPCs de matemática em três tempos (coisa rara!). Não gosto que passem muito tempo em frente a ecrãs e sugeri-lhe que lesse um pouco. Pegou no livro que estava quase a acabar "Uma Aventura no Porto" e sentei-me a ler "Lua de Mel no Irão", ao lado dele. (Tudo a ver, mas adiante!)
     Lá me ia comentando a leitura: " Da próxima vez que formos ao Porto, podemos ir à Ribeira, mãe?"... "Sim, filho!"... "E à Torre dos Clérigos?"... "Está bem! Logo se vê!".
    De repente, chega ao frontespício do último capítulo e começa-se a rir.
     "Ora, as senhoras autoras chegam ao final do livro e pensam...uhmm, que nome haveremos de dar a este capítulo? Ora, bem, o que é que vamos fazer? É o... é o... falta-me a palavra... Já sei! É o desfecho! E, então, não estão para se chatear a escolher mais um nome para o capítulo e adivinha como lhe chamam?... Desfecho!"
     Ri-se, ri-se; prolonga a piada. Acho-lhe graça. Miúdo com espírito crítico e sentido de humor!


      A Maria quis comprar uma bandelete com umas antenas de rena para uma dança que vai fazer na escola. Compra uma nos Chineses. É em plástico e, aparentemente, dará luz ao ligar um botãozinho minúsculo na parte detrás. 
      Os dois adultos que lhe guiam a vida (ou nem por isso!!!) não atinam nem conseguem pôr aquilo a funcionar, enquanto disparatam sobre possível falência de pilha, sobre o facto de se dever ter experimentado na própria loja em frente à vendedora, para comprovar se funcionava, uma vez que agora dificilmente a trocarão, entre outras achegas absolutamente inúteis e tentativas de activação do dispositivo... em vão. 
      Durante todo o processo (que terá durado uns escassos dois minutitos) a Maria, calada, observa atentamente a bandelete nas nossas mãos. Preparámo-nos para a consolar "Olha, filha, deixa lá! É gira na mesma, só que não vai brilhar!"
      Ela pega no objecto, com ar triunfante e simultaneamente condescendente para connosco (os tais adultos orientadores!), move uma peça, uma película branca minúscula de uma ranhura para outra, accionando assim o dispositivo de iluminação. "Não funciona, não funciona! Claro que funciona! É só mudar isto para aqui e já está!"
      E já está! O que a ambos passou completamente ao lado! Miúda perspicaz e despachada!

Sunday, December 11, 2016

Carta ao Pai Natal 2016

Querido Pai Natal:
Este ano acho que me portei bem, por isso, quero:
- Um telemóvel novo;
- O jogo Fifa16 para a PS3;
- Uma camisola da selecção portuguesa;
- Os diários do Banana 5,6,7,8,9,20 e 11;
- O  novo "Caça Fantasmas" da Concentra;
- Umas sapatilhas da Nike;
- Uma máquina fotográfica e uma banda desenhada.
Também quero ter (e que tenhas) um óptimo Natal.
Desejo-te Boas Festas!
Pedro Neto

Pai Natal:
- A Casa de Sonhos da Barbie;
- Kidizoom (relógio com jogos);
- Ken;
- Lápis de Cera;
- 3 Pinipons;
- Ratinhos Brincalhões

Maria

Poker

BENJAMINS- G. D.Bragança-8 MIRANDELA-1

"Sabes, mãe, hoje fiz um poker?"
"O que é isso?"
"É marcar quatro golos; hat trick são três golos; poker são quatro! Quatro, mãe! Quatro!
"Boa, filho! Isso é que foi um jogo espectacular!"
"Todos os colegas da equipa me felicitaram e eu dediquei um golo ao Ramos, que estava lesionado e não pôde jogar e os outros três à minha namorada nova..."
"Outra?"
"Sim, chama-se Inês e está no hospital. Dediquei-lhe os outros golos por isso. Assim que entrei em campo marquei logo um, não demorou trinta segundos..."
"É assim mesmo, filho!"

É isto. Fica para a nossa história o dia em que o Pedro fez um poker e a mãe aprendeu o que isso é.

Foto de Carla Afonso.

Friday, December 9, 2016

Estudar com os Filhos

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Tal e qual como cá em casa (tirando o sorriso no rosto!)
      Era daquelas coisas sobre as quais eu dizia "nunca" ... e como diz o ditado...

     Não era bem "nunca", mas lembro-me de "gozar" com uma colega que dizia coisas do género:

"este sábado não posso, tenho de estudar Ciências com a mais nova";
"Domingo à noite não dá, tenho de estudar Matemática com a mais velha".

Ela alinhava na brincadeira e, às vezes já dizia:  
"Não posso, tenho teste de Português".

Muitos intervalos impliquei com este tenho!!!! Tens não, dizia-lhe eu, tu já fizeste o básico há muito tempo. Quem tem são elas.... era o que me fazia falta, pois eu não estou para isso!! Eles que estudem, que eu também fiz pela vida. 

Como em tanta coisa na vida, "Never say never!"
A vida dá muitas voltas. Hoje entendo-a, perfeitamente - e sigo-lhe os passos. Desculpa, amiga - tinhas razão!

Tenho como desculpa o facto de, naquela altura,  eu estar a anos luz de ti. Eu tinha vinte e cinco anos, não tinha marido, nem filhos, nem expectativas de que alguém a quem se ama mais do que à vida  (um filho) brilhasse. A minha órbita era eu mesma: ler o que me apetecesse, ir ao ginásio, sair  à noite de vez em quando. 
Hoje, as tuas filhas, por quem sacrificaste tanto da tua juventude, são jovens bem sucedidas. Com futuros promissores e brilhantes. (Deus as abençoe!)  - Tinhas razão, amiga! 
É preciso acompanhá-los muito. Não apenas por motivos académicos, mas porque isso reforça vínculos que serão para a vida. Estou certa de que hão-de lembrar-se do apoio, do esforço comum, das vitórias e dos retrocessos, sempre connosco...

 Este feriado tocou-me História de Portugal. Custou-me acordar cedo, para que o Pedro ficasse com a tarde livre para o convívio do futebol, mas valeu a pena. Gostei de rever tudo aquilo (saudades e orgulho do nosso passado!!!!) o miúdo estava consciente das coisas.

 No entanto, fiquei mesmo com a sensação de que aquilo é muita fruta para miúdos de tão tenra idade!!!! Quer dizer, o teste abrangia desde a formação de Portugal (Desde os primeiros povos até ao Condado Portucalense) até à segunda Dinastia, incluindo ainda todos os ossos e músculos do corpo humano!!! UFFF! 
(Parêntesis lólico = o meu filho nunca se esquece da "tíbia", por eu lhe ter contado que era essa a minha nomeada no segundo ciclo!!!!!)

Converso com uma mãe amiga, sobre isso. 
"É a terceira vez que estou a tirar o  primeiro ciclo e eu podia jurar que cada vez tem sido mais difícil."

Ela ri e concorda:
"Sí, es que los niños no están preparados para aquellos conceptos! Son muy nuevos!" 

(Penso, reflexão importante, vindo de alguém cuja profissão é lidar com o cérebro humano. A minha intuição estava certa e é agora validada cientificamente )

Responde ainda, com graça:
"Yo, por acaso, no! Esta história não habia estudado!" ( espanhola, de nacionalidade)

Sunday, December 4, 2016

Hiperventilar


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       Eu pensava que só teria de hiperventilar pelo Pedro uma vez na vida - em trabalho de parto; mas a verdade é que não. Todos os dias tenho de respirar fundo para lidar com o meu filho. Temos.          
      Hoje tocou mais ao pai. A ajudar a estudar matemática.  Ó nossa senhora das fracções, iluminai-nos!
      O maior problema do Pedro não é o raciocínio ou o cálculo. É o nervoso miudinho, a intolerância à frustração, a ansiedade de despachar tudo num instante, mesmo quando são coisas que levam tempo.
      Depois,  a irritabilidade. Quando fica num estado de nervos, até ele próprio hiperventila e fica irracional - muito difícil de trabalhar e ultrapassar dificuldades nestes casos. Deus nos areje! A todos!
    
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Saturday, December 3, 2016

Lista para o Pedro rever daqui por...dez anos?


Resultado de imagem para likes and dislikes, clipartEncontrei esta actividade no caderno de Português do Pedro. Quero guardar - para que veja se se revê em si próprio daqui por uns tempos. Se calhar, algumas serão já diferentes no espaço de dois ou três anos, outras, espero que lhe sejam verdadeiras pela vida fora.


Bragança, 4 de Novembro de 2016

Chamo-me Pedro, tenho nove anos e moro em Bragança. Tenho cabelo castanho, sou moreno, sou bonito e sou moderado.

Doze coisas de que eu gosto:
  1. Gosto de jogar à bola
  2. Gosto dos meus amigos
  3. Gosto de pastores alemães treinados
  4. Gosto de escrever poemas
  5. Gosto de desenhar
  6. Gosto da minha família
  7. Gosto de andar de bicicleta
  8. Gosto de snooker
  9. Gosto de falar Inglês
  10. Gosto de nadar
  11. Gosto de doces
  12. Gosto de ouvir música
Doze coisas de que eu não gosto:
  1. Não gosto de alguns legumes
  2. Não gosto de carrapatos
  3. Não gosto de ovos estrelados
  4. Não gosto de pessoas más
  5. Não gosto de coisas malucas
  6. Não gosto de ratos
  7. Não gosto de incêndios
  8. Não gosto de países onde não há liberdade
  9. Não gosto de poluição
  10. Não gosto de saudade
  11. Não gosto de maldade
  12. Não gosto de muito barulho



Um pê e um ó, pó!

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     Ainda apanhámos um susto, há umas semanas atrás, quando percebemos que a Mary trocava os pês pelos tês e que, para não pensar muito nos ditongos se deitava a adivinhar a palavra pela imagem ou pelo contexto, de forma que previa mãe onde deveria decifrar mamã... 
      Aquilo andava a pôr-me doida! Um pê e um A, pá; um tê e um ó, tó - e então a rapariga lia PÁ-TÓ. Sápó, rátó, pálitó e por aí adiante. (Ensinei-lhe os diferentes valores das vogais. Disse-lhe que, no final das palavras o O normalmente se lê U e lá foi encaixando aquilo.). Depois era - TAPT, para tapete. Ora, se lhe ensinam que P se lê pê, para quê acrescentar vogais?
     A primeira vez que fez um ditado- uma lista com oito palavras - acertou duas e, no dia seguinte teve avaliação amarela na leitura. Foi o alerta para nós. Nunca mais a largámos. Diariamente um pouquinho, mas mais ao fim de semana, exercícios extra de sílabas, palavras e pequenas frases, em fichas, cadernos e até em jogos de computador. Foi progredindo. No ditado seguinte teve as oito palavras correctas e um PARABÉNS a vermelho, que nos encheu o coração e lhe redobrou a confiança. 
         No outro dia, pega num livro do Valter Hugo Mãe que ando a ler (Desumanização), aprecia-lhe a capa, as ilustrações dos monstros, vira-o, revira-o, folheia-o e conclui: "A mãe já leu isto tudo?". Achei-lhe piada. A noção do esforço gigantesco que será, do ponto de vista dela, juntar aquelas sílabas todas!!!!
       Apesar das dificuldades iniciais, sempre considerei muito positiva a atitude dela em relação à aprendizagem. Especialmente no que toca ao sentido de humor e espírito crítico.  Lá tinha ela de ler e copiar frases, com as reduzidas consoantes que haviam aprendido e ela a considerá-las (e bem) artificiais e forçadas:

O LEÃO PÕE A PATA. (ponto final)
E ela, depois de muito silabar: "Mas põe a pata aonde, faz algum sentido?"

O PAPÁ PAPA A PAPA. 
A sério? Quem come a papa são os bebés!  
Sim, Maria, mas tu ainda não aprendeste o bê, anda, copia.
(Faz-me lembrar a minha irmã nas aulas de condução e o instrutor, conduza, menina, não questione, não questione!)

A DÁLIA DÁ O DEDAL AO DIDI. O que é dedal, mãe?

O PAI É O PAPÁ...
Não! Ia ser mamã...
 
      Enfim, pareceu-me que a curiosidade e o espírito crítico da Maria podem vir a ser uma mais valia na aquisição de conhecimentos. Para já, porque tem de ser, coartamo-los para que avance, mas com um sorriso nos lábios. Como se diz por estas terras "é guitcha" (esperta).
       Hoje, com uns materiais manipuláveis em cartão, a surpresa. Junta tudo, mesmo letras que ainda não deu. Leu tudo: Xavier, Beatriz, árvore, etc, etc. Encarreirou. Agora faz-nos desenhos com mensagens:
 A mãe é má. 
O pai é mau.
O quê, safada?É para isto que andas a aprender a escrever? 
Ah, é que ainda não dei o bê de bom!



Friday, December 2, 2016

A Chegada do Pai Natal






     Agora que já só um dos corações grandes e mãos pequeninas acredita no Pai Natal, temos cúmplice na manutenção da fantasia para a mais nova. 
     Já no ano passado, dúvidas e mais pulgas atrás da orelha ("porque é que os presentes do Pai Natal vêm com o mesmo papel de embrulho que os nossos?" e também "o não-sei-quantos diz que isso não existe"). Revelámos. O Pedro, como sempre, fez disso uma tragédia grega em três actos, cujo refrão consistia num indignado -"vocês, mentiram-ME? Como foram capazes de me mentir?" (com verdadeira voz melosa do monólogo "ser ou não ser, eis a questão). Catarsis feita, a cena serenou com a promessa que, então, iria connosco às compras de natal e com o pacto de que manteríamos o segredo para a mana e para o primo Tomé por mais uns tempos.
     Neste espírito, lá fomos receber o velhinho das barbas brancas que chegava ontem à cidade. O Pedro e o Gonçalo mais animados pela pista de gelo do que propriamente pelo trenó e pelas renas, a Maria de olhinhos a brilhar, olhos postos nos anjos e sinos em andas, nos duendes, nos esquilos e nas Ice Girls. Com gorrinhos alusivos, de grandes orelhas de duende, a minha criançada lá acompanhou o cortejo até à Praça da Sé. Aí, apreciaram o presépio em tamanho real e aqueceram as mãos no fogareiro.
     Na Praça Camões também se ficaram uns minutos a contemplar o presépio mais extenso, colado à Biblioteca Municipal, mas houve logo uma vozinha dissonante e masculina (o meu Pedro): "O que é que o Big Ben está ali a fazer? Nada disto se passou em Londres e, naquela altura nem havia relógios!"
     Grande recepção ao velhinho, acende-se o pinheirinho cheio de luzinhas - as minhas crianças quase absolutamente satisfeitas, não fosse a ansiedade dos mais velhos irem patinar!!!! Eu tinha jurado que não, que não enfrentaria a fúria do primeiro dia de pista de gelo, por razões mil: filas de espera (40 minutos ao frio), muita gente na pista, logo, mais perigo para a pequena, etc, etc. Então lá fui eu, cumprir o meu fado para a dita. Patins nos pés, capacete na cabeça.  
     "Arranja-me uma foquinha para a pequena, por favor?"
     E o rapaz, com alguma piada "Vou tentar, minha senhora, mas sabe? Elas não se reproduzem cá dentro!"
      Ao fim e ao cabo, quem mais teria usufruído do apoio teria sido o mais velho, que, corria e caía como um desalmado. No final, queixava-se que estava sempre a cair. Pudera, filho, não andas devagar, só tentas correr!, ao que responde "É para aproveitar o tempo. São só 20 minutos, tenho de andar depressa para andar muito..." (- para andar muito pelo chão, diria eu)
      Ainda acabei por prestar auxílio a um estudante Erasmus que sangrava abundantemente de uma mão, havia-se cortado no patim de um colega, quando o grupo todo caiu - nestas coisas os graúdos parecem ficar ainda mais histéricos que os miúdos e, não raramente, acaba mal. Fui chamar o bombeiro, que por sua vez tinha sido meu aluno e não falava nada de inglês. Momento em que vacilo em pensar:
a)  que útil estou a ser neste momento,  a servir de intérprete nesta emergência 
b) que inútil fui como professora de inglês deste, que não se safa nada!
      E, pronto. Criançada estafada, encharcada e esganifada da fome. Hora de recolher, banho quente e janta, que nem parece que amanhã é dia de escola!







Monday, November 21, 2016

Dentista


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Hoje o Pedro foi à dentista. Queixava-se de um dente "rachado" havia já uns dias.
Ele entra bem disposto, descontraído, conversa com a doutora e a auxiliar, abre a boca quando solicitado.
A Dra analisa e dispõe-se a explicar-lhe de que se tratava e qual o procedimento a seguir.
Ele muito despachado: "Não quero saber de nada disso, esteja à vontade, faça lá o que tiver de fazer e pronto!" (eu meia na dúvida entre achar piada  à descontração ou censurar a pontinha de desrespeito que me pareceu interrompê-la assim abruptamente, mas vá lá, são crianças e tal, a gente tolera...)
Ainda assim a Dra foi explicando que era uma cárie e que tinha efectivamente uma rachadelazita, que teria de limpar e afundar... (suponho que a seguir diria para depois tapar, se tivesse tido tempo).
O Pedro volta a interrompê-la e sai-se com:
"Então você em vez de tapar o buraco vai abri-lo mais?"
Riram-se, que em anos de carreira nunca tinham  tido uma saída assim.
Desta vez também perdoei a audácia pelo sentido de humor. 

Tuesday, November 15, 2016

Dar a outra face


Resultado de imagem para turning the other cheek, clipart      Ó Jesus Cristo, se calhar,  hoje em dia, não era mal pensado tu reveres aquela parte de dar a outra face e tal... é que as coisas estão difíceis, nos recreios infantis e começa a urgir um qualquer tipo de inovação, mais não fosse tecnológica, sei lá... Um holograma tipo bolha virtual que protegesse os garotos dos arremessos violentos dos pares. Não sei, mas estou aberta a negociações ou mensagens espirituais por vias de pombas santas ou emails. Dá-me igual.           Não leves a mal, eu sei que foi isso que me ensinaste e que tentei passar à prole, mas, quer dizer... será melhor já não insistir no oferecer literalmente a segunda bochecha ao estalo, é que os meus filhos têm vindo um pouco mazelados da caridade e perdão intervalar...
      No outro dia, o Pedro vinha perturbado e não queria ir ao treino de futebol (que ele adora e de que nunca abdica). Indaguei razões e o pacto de silêncio que encobre estas circunstâncias impôs-se. Casualmente uma professora dele vinha a passar e explicou-me detalhes. Tecidos muitos elogios à boa educação e cordialidade do Pedro, um comportamento exemplar dentro e fora da sala de aula, enfim, arrufos entre meninos que até se dizem amigos, uma má companhia para o Pedro, no seu entender, desavenças que acabam em bulhas nas quais o meu filho não riposta.  Esta parte deixou-me confusa. Que não procurasse o confronto, que tentasse lidar civilizadamente, eu entendia.  Agora, que depois da agressão não se defendesse sequer, tendo em conta a estatura muito inferior do outro menino... não estava a perceber. Perguntei-lhe, a sós. Confessou-me: "Não quero ser chamado à direcção, nem ser expulso da escola, nem que me ponhas de castigo por bater nos outros." 
       Naquele momento, sentimentos confusos. Orgulho na opção dele. De não violência. A percepção - tão rara- de que estamos a educá-lo bem, para a civilidade e o respeito pelo outro e também o respeito pelas instituições e todo o sistema com as suas regras. A surpresa de perceber o quanto respeita a autoridade exterior a si. Mas também sentimentos azedos como: surpresa por vê-lo no papel de vítima (embora não o quiséssemos como agressor); pena por lhe ter passado tão bem a mensagem que ficou indefeso; comoção pela lealdade e não denúncia do amigo; raiva por um recreio que não controla estas situações; culpa por não lhe ter ensinado também a  defender-se... deu-me que pensar!
      A Mary, por sua vez, entrou na escolinha dos grandes, uma escolinha pública onde brinca no recreio com meninas e meninos de todas as formas e feitios. Tem vindo com arranhões e hematomas vários, que inicialmente atribuímos às brincadeiras audaciosas da nossa despenteada, que sempre foi destemida e aventureira. Pouco a pouco, relatos de agressões. Começámos com o discurso caseiro do "tu também não és flor que se cheire" e por aí vai, mas temos vindo a reparar que o problema é mais vasto que isso. Sondámos o mano mais velho, quase em vão, porque logo percebemos que os seus recreios estão mais focados em remates e defesas do que em ser cavaleiro-andante-escudeiro da piquena. Nas palavras dela "ele nos intervalos está sempre  a jogar futebol!"
      Hoje, na mochila dela, um grande pau. "Isto é o que eu uso para me defender!" Fiquei sem pinta de sangue, veio-me logo à ideia a minha mana mais nova que foi agredida exactamente na escola primária e com um pau, chegando a ser  e suturada! Comecei a remoer na ideia que os intervalos são o Texas, não há funcionários que cheguem para tantas crianças com as hiperactividades e faltas de educação que elas trazem anexas e, portanto,... valha-nos Deus!
      Peço-lhe que não recorra ao pau, nem a pedras, nem a nada, nem mesmo para se defender; sugiro-lhe alternativas como aproximar-se de um adulto, fazer queixa a um funcionário ou à professora. Parece que também há adultos que os mandam "defender-se em vez de fazer queixinhas".
      Ora bem, valha-nos Deus e desculpa lá ó Cristo, mas manda-me rápido uma pomba iluminada que me inspire ou não tarda e já os instruo de maneira diferente: sabem, filhos, afinal, dar a outra face só mesmo se for para beijar!

    

Sunday, October 23, 2016

Ser RICO

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"Ó pai, porque é que quiseste ser professor em vez de médico?"
"Porquê filha?"
"Porque assim só te dão dinheiro uma vez na semana... e se fosses médico davam-te todos os dias"
"Como assim?"
" Não vês que o hospital está cheio de pessoas todos os dias, que partem ossos e estão sempre a pagar...ou tinhas um café, que as pessoas tomam café todos os dias e dão dinheiro...ou então ias à televisão e ganhavas milhares de euros..."
(...)
"Então podes tu ser médica, filha!"
"Eu não, que quero ser pintora"
"Mas os pintores nem sempre vendem muitos quadros e só recebem dinheiro se os quadros forem valiosos..."
Rich Man Lighting His Cigar with a Dollar Bill - Royalty Free Clipart Picture
"Mas eu quero ser pintora famosa, quero ter o meu museu!"

"Pai, porque não compras um Bugatti?"
"Porque esses carros são muito caros, são carros de luxo, para milionários, quase ninguém pode ter um..."

Parece que, apesar de cá em casa ninguém ser muito ganancioso, nem agarrado, nem propriamente materialista, a mensagem do consumismo chega aos nossos filhos, levando por água abaixo os nossos esforços para que sejam se tornem adultos realizados, no sentido de satisfeitos e contentados com o que têm.
Mais, quereríamos que fossem  gratos pelos bens que possuem, que dessem valor, que sentissem ainda que podem partilhar e que reconhecessem que, em muitos sentidos, são muito ricos. (pedir de mais? demasiado  cedo? Talvez...)
Ricos, filhos. E não apenas no sentido metafórico, por terem saúde e vitalidade. Gostaríamos, corações grandes, que percebessem que é um dom, um privilégio viver como vivemos... que a grande maioria das pessoas do mundo não tem o nosso estilo de vida. Que é um privilégio viver - em PAZ, em DEMOCRACIA, em LIBERDADE. Que é um privilégio ter um tecto, alimentos, roupas e a montanha de outros objectos que possuímos e serviços de que usufruímos: electricidade, água potável, água canalizada, aquecimento central, vacinação, escolas e bibliotecas públicas, a lista não tem fim.

A minha Maria acha que uma casa "de jeito" tem de "ter jardim e piscina, mas não é uma normal; é daquelas com tampa e com luzes, para podermos tomar banho no inverno e de noite"
O Pedro, talvez por ser mais velhinho, vai integrando o nosso apelo à moderação, ao bom-senso, à modéstia e à gratidão. Fixa a imagem televisiva de uma cidade em escombros, algures na Síria e diz "Já viste o que é viver assim? Vão ter de fugir das suas casas, não é? E era uma cidade normal, não era? Coitadas daquelas pessoas! Ainda bem que não temos de viver ali!"
Empatia. Sensibilidade.Gratidão. Bravo, filho! Estás no bom caminho para te tornares num ser humano como deve ser. Rico por dentro.

Sunday, October 9, 2016

Dedução (a meu ver) brilhante

" ó mãe, tu dás aulas em várias escolas, não é?"

"sim, filha, vou a várias escolinhas, a diferentes turmas...!"
(eu a pensar que talvez  lhe custe encaixar isso, uma vez que a professora dela nunca sai da mesma sala, no mesmo sítio e com os mesmos alunos...)

"mas são só meninos do terceiro e do quarto, não é?"
"sim, agora só trabalho no primeiro ciclo"
(eu a reforçar a ideia, pensando que o foco dela era a faixa etária com quem trabalho...)

"então significa que estás sempre a repetir a mesma coisa...."
(e, pronto, na mouche, a Maria acerta em cheio no se não da bela...é verdade que oito ou nove turmas do mesmo nível equivalem a muita repetição. Perspicaz, não acham?)

Sunday, September 25, 2016

Tesourinhos de Agosto

 Notas de Verão que não podem ficar por registar:


1) "A vantagem de ser pequenina é que consigo passar nestes espaços apertadinhos", diz a Mary, a esgueirar-se por baixo da pressiana, para a varanda, a fim de sacudir a toalha de mesa.

2) Pum. Bati a porta com a chave lá dentro. Felizmente o Pedro tinha o tamanho e a agilidade adequados para se esgueirar pela janelinha ....
"sempre quis assaltar uma casa!" diz ele, feliz, ao abrir-nos a porta de casa!

3) Um bicharoco qualquer na casa de banho. Eu e o Pedro, em pânico, a chamar pelo pai.
O pai, lá de baixo: "Que é que foi?"
Ela, de sorriso escarnecedor nos lábios:  "Traz uma espingarda!"

4) Viagem para o Algarve, alvorada. O Pedro olha pela janela do carro e exclama:
"Olha o pôr da lua!"

5) Tardinha à saída da praia. "O sol estava a boiar no mar..." (Mary)

6) Eu, após os primeiros dias de mergulhos no mar:
"Tenho os ouvidos cheios de água, não ouço nada!"
Ela, muito alto e a rir-se:
"F**se!"
Eu, escandalizada:
"Então, Maria?"
Ela, trocista:
"Disseste que não ouvias nada!"

Solução para tudo




Vamos ao parque, pela tardinha.
Aproveitar as abébias aos trabalhos de casa que a primeira semana proporciona.
O Pedro arranca mais cedo - privilégio de ser irmão mais velho. Vai indo sozinho, bola debaixo do braço, boné na cabeça, alegria nos lábios.
Ela faz questão de levar a boneca (coisa rara, mas deu-lhe para aquilo) e a bicicleta. Explico que não vai conseguir carregar aquilo tudo e que não estou disposta a carregar por ela - já levo a água e o meu livro. Diz que não faz mal, que lá se arranja.
Passa o percurso todo da ida a tentar equilibrar a boneca na baique, nem sempre com sucesso, mas emendando a posição e fazendo raciocínios em voz alta, para si própria. (já percebeu que a mim não pode recorrer!)
No regresso a casa, lá lhe pergunto, rendida à evidência da dificuldade, se quer que segure na boneca, enquanto pedala.
"Não é preciso. Eu arranjo sempre solução para tudo!"
Como de facto. Enfia a boneca debaixo da t-shirt e arranca, sorridente!

Tuesday, September 13, 2016

A Maria vai à escola!

Amanhã a Maria inicia a vida escolar. É um grande passo na vida da nossa pequenina!
Ela está eufórica - há quinze dias que tem os materiais prontos, folheia saboriosamente os manuais, fala da escolinha dos grandes e há dois dias que dorme abraçada à mochilinha da Frozen.

Tem o estojo carregado da ilusão que, para ela, é a escola!
Ela própria o artilhou com canetas, lápis, borracha, afia, tesoura e cola. Faltava a cola. Andou uma semana a chagar-me a cabeça com a cola que, evidentemente, faltava para as colagens que a sua ilusão imagina ser a Escola. 

Vai ter um balde de água fria, mas, de qualquer maneira, lá lhe comprámos o stick da UHU para as parcas colagens que, eventualmente, irá fazer, entre a carrada de tarefas, trabalhos, letras, números e tudo o resto que lhe vão injectar no cérebro. 

A Maria, quando for grande, quer ser pintora. 
Desde muito cedo, revelou um espírito criativo e dado às artes plásticas. 
De sua lavra, sem a influência de ninguém, surrupia tudo o que é lixo cá de casa para os seus projectos, a que chama "trabalhos". Cones do papel higiénico, caixas dos ovos, papéis de embrulho, tecidos e farrapos. 
Claro está que esses procedimentos espelham em muito as práticas do pré-escolar, mas o desenho e a pintura são mesmo um talento natural nela. Adora reproduzir ilustrações -copia por cima as capas dos livros ou imita, a olho nu, os brinquedos e bonecos favoritos. Eu, que sou uma nulidade no traço e o pai, a quem também não se conhecem dotes desenhantes, consideramos essa habilidade extraordinária, particularmente porque nunca a estimulámos em particular. A ver vamos.

De momento, arranca-nos um sorriso embevecido, e algo triste, perceber que a sua expectativa do que é a escola pode sair... ligeiramente... gorada!

É um misto de emoções, pequenina, ver-te ansiosa por esta nova etapa, felizes porque progrides e avanças, mas simultaneamente um pouco tristes porque é o início do adeus à tua infância mágica. Oxalá a escola responda ao teu sonho e não aniquile a tua paixão.

Boa sorte, pequena!


Tuesday, July 19, 2016

Conflito entre irmões!!!!

Eu devia ter adivinhado que as disputas entre manos se perpetuariam no tempo, logo quando dei com o Pedro, de punhos cerrados, junto ao berço da recém-chegada... ou deveria ter deduzido pelo facto de ela ter aprendido a andar ao empurrão... (muito gostava ele de a ver cair de fralda estreme no chão, para novamente se erguer agarradinha ao sofá!) 
 Eu devia ter percebido, aquando do desfralde da Mary, que a reciprocidade de afectos daria pano para mangas pela infância fora, naquela acusação peremptória... ela, aflita, a já não chegar a tempo à função, com uma mão no tampo da sanita, outra nas cuecas molhadinhas, muito aflita (normalmente controlava-se muito bem, raras vezes, se não nunca, se descuidava...) e eu: "Ohhh!Então, filha?" e ela, sem pestanejar: "Foi o MANO!"

Pois claro. A culpa é sempre dele.
 Eu devia ter percebido então.
Que o "ela-é-que-começou", "ele-fez-primeiro" ia ecoar por estas paredes fora ad eterno...

E era apenas o início da saga.
São sempre discussões ÉPICAS!
Por motivos de lesa pátria!

1) Ela está a respirar o mesmo ar que eu!
2) Ele tocou no meu lado!
3) Ela está na soleira do meu quarto! (já nem é porque lá entrou...)
4) Ela está a OLHAR para mim!
5) Ele chamou-me bebé!
6) É meu!!!
7) Eu peguei primeiro!
8) Ele cuspiu no gelado só para não me dar um bocadinho!
9) Ela escondeu o comando para eu não mudar de canal!
10) Ele quer beber no copo  cor de rosa!
11) A coca-cola dela tem mais bolhinhas que a minha!

O carro e as viagens dão todo um outro capítulo.
Já não basta o refrão individual - ou em stereo - do "quanto falta?", "falta muito para chegar" em cada um dos cinco minutos das longas viagens de quatrocentos quilómetros... há também: as cadeiras, a escolha do cd, o LADO,  os pés, os cotovelos, o pescoço, whatever no lado errado...
E quando os adultos in command pensam que solucionam a coisa descobrindo a pólvora e dando um tablet a CADA UM...
Ah! Ingénuos!
Ah! crentes!
Isto é uma guerra secular!
Um competir visceral!
Uma disputa vital!!!!
É porque o som do tablet dele está mais alto, é porque já passei de nível e tu não, é porque esse jogo é de meninas e um etecetera até ao destino que nos agita os fígados e põe os nervinhos em franja!!!


Porque a questão que se impõe é: COMO, por Deus, COMO mediar tais intermináveis disputas?
Se não, vejamos:

"Mããããeee, ele está a dizer  que  eu sou burra!"
"Ignora-o!"
"Vou-te ignorar."
"Não, não vais!"
"Sim vou!"
"Não, não vais!"
"E sim!"
"E não!"
"M
ãããeee! Ele não me deixa ignorá-lo!"
(aggghhhhhhhh)

NÃO. TEM. FIM.

Um gajo acaba por perder as estribeiras  aplicar com a máxima razoabilidade o princípio supremo da justiça cega que consiste em 
não ouvir razões 

rematar com um gordo cada-um-para-o-seu-quarto, 
que, vá-se lá entender os deixa - a ambos- descontentes, vítima e agressor, 
porque (mistério dos mistérios) eles queriam estar juntos!!!!?????

 

Wednesday, July 6, 2016

A Mary vista pelos amiguinhos


AVISO À NAVEGAÇÃO:
Eu chorei quando li. A Mary soluçou quando leu. Ninguém resiste à ternura das dedicatórias no livro de curso:

És linda como uma princesa. Não bates a ninguém... Dás abraços aos colegas e beijinhos. (Fernando)

És linda! Gostas dos meninos todos! Vou ter saudades tuas (Daniel)

Maria, és bonita e gostas de dar abraços... Fazes desenhos bonitos (Afonso)

És bonita e princesa... pegas em todos ao colo, nos pequeninos - aos grandes não porque pesam... (Cristiano)

Tu és a minha melhor amiga! Tu sempre brincaste comigo. Gosto muito de ti. És muito bonita... fazes desenhos bonitos. Deste-me um colar e uma pulseira e fiquei muito feliz. (Ana Maria)

És uma menina que se porta bem. Tu brincavas sempre comigo, foste muito minha amiga. Ajudavas sempre os meninos. Vou ter saudades tuas (Ana Lia)

Maria, és muito meiguinha, muito querida e muito, muito mais querida. És um amor e eu sou muito tua amiga. Gosto muito de brincar contigo no parque. (Beatriz)

És bonita! Sabes escrever o teu nome no quadro das presenças. És uma princesa. Ajudavas os mais pequenos... Pintas muito bem. (José Diogo)

Gosto muito de ti porque és uma princesa... Tens vestidos muito bonitos... És minha amiga e eu sou tua. (Soraia)

Gosto de ti, trabalhas muito bem. Beijinhos para ti. (Gonçalo)

És engraçada e divertida. Sempre gostaste de ajudar os mais pequeninos. És muito querida comigo e simpática. (Tiago) 

Tu és linda e a tua cara tem brilhantes... És linda como um coração. (Lara)

És bonita e princesa... beijinhos (Estevão)

És uma princesa, vou-te comprar uma coroa. (Gabriela)

És bonita, és uma "riqueza" (Mateus)

És muito bonita! Gosto muito de ti! (Íris)