Friday, December 2, 2016

A Chegada do Pai Natal






     Agora que já só um dos corações grandes e mãos pequeninas acredita no Pai Natal, temos cúmplice na manutenção da fantasia para a mais nova. 
     Já no ano passado, dúvidas e mais pulgas atrás da orelha ("porque é que os presentes do Pai Natal vêm com o mesmo papel de embrulho que os nossos?" e também "o não-sei-quantos diz que isso não existe"). Revelámos. O Pedro, como sempre, fez disso uma tragédia grega em três actos, cujo refrão consistia num indignado -"vocês, mentiram-ME? Como foram capazes de me mentir?" (com verdadeira voz melosa do monólogo "ser ou não ser, eis a questão). Catarsis feita, a cena serenou com a promessa que, então, iria connosco às compras de natal e com o pacto de que manteríamos o segredo para a mana e para o primo Tomé por mais uns tempos.
     Neste espírito, lá fomos receber o velhinho das barbas brancas que chegava ontem à cidade. O Pedro e o Gonçalo mais animados pela pista de gelo do que propriamente pelo trenó e pelas renas, a Maria de olhinhos a brilhar, olhos postos nos anjos e sinos em andas, nos duendes, nos esquilos e nas Ice Girls. Com gorrinhos alusivos, de grandes orelhas de duende, a minha criançada lá acompanhou o cortejo até à Praça da Sé. Aí, apreciaram o presépio em tamanho real e aqueceram as mãos no fogareiro.
     Na Praça Camões também se ficaram uns minutos a contemplar o presépio mais extenso, colado à Biblioteca Municipal, mas houve logo uma vozinha dissonante e masculina (o meu Pedro): "O que é que o Big Ben está ali a fazer? Nada disto se passou em Londres e, naquela altura nem havia relógios!"
     Grande recepção ao velhinho, acende-se o pinheirinho cheio de luzinhas - as minhas crianças quase absolutamente satisfeitas, não fosse a ansiedade dos mais velhos irem patinar!!!! Eu tinha jurado que não, que não enfrentaria a fúria do primeiro dia de pista de gelo, por razões mil: filas de espera (40 minutos ao frio), muita gente na pista, logo, mais perigo para a pequena, etc, etc. Então lá fui eu, cumprir o meu fado para a dita. Patins nos pés, capacete na cabeça.  
     "Arranja-me uma foquinha para a pequena, por favor?"
     E o rapaz, com alguma piada "Vou tentar, minha senhora, mas sabe? Elas não se reproduzem cá dentro!"
      Ao fim e ao cabo, quem mais teria usufruído do apoio teria sido o mais velho, que, corria e caía como um desalmado. No final, queixava-se que estava sempre a cair. Pudera, filho, não andas devagar, só tentas correr!, ao que responde "É para aproveitar o tempo. São só 20 minutos, tenho de andar depressa para andar muito..." (- para andar muito pelo chão, diria eu)
      Ainda acabei por prestar auxílio a um estudante Erasmus que sangrava abundantemente de uma mão, havia-se cortado no patim de um colega, quando o grupo todo caiu - nestas coisas os graúdos parecem ficar ainda mais histéricos que os miúdos e, não raramente, acaba mal. Fui chamar o bombeiro, que por sua vez tinha sido meu aluno e não falava nada de inglês. Momento em que vacilo em pensar:
a)  que útil estou a ser neste momento,  a servir de intérprete nesta emergência 
b) que inútil fui como professora de inglês deste, que não se safa nada!
      E, pronto. Criançada estafada, encharcada e esganifada da fome. Hora de recolher, banho quente e janta, que nem parece que amanhã é dia de escola!







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