Sunday, July 3, 2016

França!

     Para escapar ao festival à porta de casa, um tal de Water Slide que consiste em escorregar em bóias gigantes por uma rua em espaço urbano, com música de gosto duvidoso em altos berros, decidimos fugir. Não nos agradava a ideia pouco higiénica, estrada acima, estrada abaixo, nem o ambiente carrinhos de choque. Fomos para o campo.
Para as crianças foi um dia em cheio. A aldeia de França é um pequeno paraíso em pleno Parque Natural de Montesinho: as águas limpas e frescas do Rio Sabor e as sombras frescas de árvores milenares (que, naturalmente, não sei nomear) fizeram as delícias de miúdos e graúdos.
     Pelo caminho, explicámos às crianças - no nosso carro vinham o Pedro, a Maria e o Henrique -que, no passado era necessário fugir de Portugal, por não haver liberdade, por causa de um senhor de quem já tinham ouvido falar na escola ("o Salazar", chutam). Então, as pessoas "davam o salto", isto é tentavam passar a fronteira pelo monte, para ir para França. Pediam ajuda a uns senhores que conheciam os percursos e recebiam dinheiro pelo serviço de os guiar até ao destino. No entanto, alguns destes "ajudantes" aldrabavam os "clientes" e, ao chegar à aldeia de França afirmavam ter chegado ao destino. Custou-lhes acreditar que as pessoas pudessem ser ludibriadas dessa forma. Naturalmente, geração pós-google-e-GPS!
     Enquanto se fazia a "assadura da carne" no churrasco do parque de merendas, as crianças tomaram o primeiro banho, ao final da manhã. Primeiro, a estranheza - águas gélidas a que não estão habituados, a frescura de uma água perto da nascente do rio surpreendeu os meninos habituados a piscinas e mares do sul. Depois, a estranheza do solo - ai que pica, ai que escorrega, ai que não é areia, ai que são pedras, ai que tem lodo e girinos e até um sapo! Depressa o "E se tem bichos?"do Pedro se transformou em braçadas satisfeitas, galhofa e mergulhos gulosos.
     Há um menino que se junta ao grupo: acham piada - um amigo que veio de França para França!
     A seguir, churrascada - uma mesa colorida, saladas frescas, sumos que se refrescaram banhados nas próprias águas fluviais, batatas fritas, carninha e alegria! Fruta engolida na voracidade de ir brincar!
      Manta. Jogos e cartadas à sombra, pescar peixinhos com redes! A euforia com que se encheu um balde deles!!! Todos juntos a vibrar com a experiência. Rapidamente a vontade de voltar para dentro de água se apoderou dos catraios, altura em que interviemos para lhes desviar o foco. Era cedo para banhos, havia que esperar a digestão - vamos ver os cavalinhos no Centro Hípico, ali a dois passos.
      Munidos de cenouras e maçãs, lá foram ter com os equestres amigos. Inicialmente, ai e tal que cheiro, tantas moscas, eles mordem? E, pouco a pouco, mão estendida trémula e hesitante, um misto de receio e entusiasmo, toma cavalinho, toma a cenoura, a maçã é mais difícil, porque raio é tão curta que o bicho estende aquele focinho cheio de dentes grandes e a gente larga logo a maçã para o chão, era haver maçãs em forma de cenouras e toda a gente tinha mais coragem! Feno! No final até feno se consegue dar! Para a próxima temos mesmo de montar!
     De volta ao parque de merendas, três litradas de água pedidas pela caminhada ao sol e tchux, água outra vez. Desta vez com mergulhos mais audazes e confiança redobrada nas braçadas! Escava-se com as mãos na margem, até abrir um buraco de terra à unha (deus meu, onde estão os adultos conscientes destas crianças?), baldes de água lá para dentro, abrem-se as hostilidades: há uma piscina de lama para explorar! Saltam, patinham, rebolam, esfregam.se, besuntam-se e têm o seu momento de glória. A Maria, aos pulos "Lama! Lama!Lama!", como quem clama por uma equipa de futebol; o Pedro a pegar em mancheias de terra que esfrega sofregamente pelo corpo e todos, todos, a chafurdar na lama e a correr rio adentro para se limparem, sucessivamente, vezes sem conta - os adultos incrédulos, com a cara de ponto de interrogação - ralho ou não ralho; decidem-se pela alegria, filmam e apreciam vê-los TÃO felizes e soltos!
      A lama esmorece, mais banho em águas doces. "Uma COBRA!!! Apanhámos uma cobra de água!" As emoções não param. Há gritinhos histéricos, risos e saltinhos - a cobra a serpentear na rede tão agitada quanto eles!
      Lanche: pizza caseira, feita pelo pai Reno; melancia e melão frescos, gelados - crianças felizes! Bola, para o dia ser perfeito: primeiro, matrecos; depois, futebol no campo ali ao lado. Este sítio é o céu dos miúdos!
      As aventuras não se esgotam: o pai do Diogo, vestido com um fato impermeável, daqueles dos pescadores de verdade, consegue uma truta para delírio dos cachopos! 
     Há ainda escapadelas para chuveiradas à socapa na rega por aspersão, que é feita por um dispositivo vertical bastante elevado, mesmo acima das cabeças dos catraios. Mais Risota!
     Difícil arrancá-los do paraíso! Os adultos ainda tiveram que esperar que a equipa resgatasse um passarinho caído do ninho e o devolvesse, são e salvo, ao lar. Brilhos nos olhos pequenos com íris dilatadas de emoção!
    
    






     
     

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