

Para as crianças foi um dia em cheio. A aldeia de França é um pequeno paraíso em pleno Parque Natural de Montesinho: as águas limpas e frescas do Rio Sabor e as sombras frescas de árvores milenares (que, naturalmente, não sei nomear) fizeram as delícias de miúdos e graúdos.
Pelo caminho, explicámos às crianças - no nosso carro vinham o Pedro, a Maria e o Henrique -que, no passado era necessário fugir de Portugal, por não haver liberdade, por causa de um senhor de quem já tinham ouvido falar na escola ("o Salazar", chutam). Então, as pessoas "davam o salto", isto é tentavam passar a fronteira pelo monte, para ir para França. Pediam ajuda a uns senhores que conheciam os percursos e recebiam dinheiro pelo serviço de os guiar até ao destino. No entanto, alguns destes "ajudantes" aldrabavam os "clientes" e, ao chegar à aldeia de França afirmavam ter chegado ao destino. Custou-lhes acreditar que as pessoas pudessem ser ludibriadas dessa forma. Naturalmente, geração pós-google-e-GPS!
Enquanto se fazia a "assadura da carne" no churrasco do parque de merendas, as crianças tomaram o primeiro banho, ao final da manhã. Primeiro, a estranheza - águas gélidas a que não estão habituados, a frescura de uma água perto da nascente do rio surpreendeu os meninos habituados a piscinas e mares do sul. Depois, a estranheza do solo - ai que pica, ai que escorrega, ai que não é areia, ai que são pedras, ai que tem lodo e girinos e até um sapo! Depressa o "E se tem bichos?"do Pedro se transformou em braçadas satisfeitas, galhofa e mergulhos gulosos.
Há um menino que se junta ao grupo: acham piada - um amigo que veio de França para França!
A seguir, churrascada - uma mesa colorida, saladas frescas, sumos que se refrescaram banhados nas próprias águas fluviais, batatas fritas, carninha e alegria! Fruta engolida na voracidade de ir brincar!
Manta. Jogos e cartadas à sombra, pescar peixinhos com redes! A euforia com que se encheu um balde deles!!! Todos juntos a vibrar com a experiência. Rapidamente a vontade de voltar para dentro de água se apoderou dos catraios, altura em que interviemos para lhes desviar o foco. Era cedo para banhos, havia que esperar a digestão - vamos ver os cavalinhos no Centro Hípico, ali a dois passos.
Munidos de cenouras e maçãs, lá foram ter com os equestres amigos. Inicialmente, ai e tal que cheiro, tantas moscas, eles mordem? E, pouco a pouco, mão estendida trémula e hesitante, um misto de receio e entusiasmo, toma cavalinho, toma a cenoura, a maçã é mais difícil, porque raio é tão curta que o bicho estende aquele focinho cheio de dentes grandes e a gente larga logo a maçã para o chão, era haver maçãs em forma de cenouras e toda a gente tinha mais coragem! Feno! No final até feno se consegue dar! Para a próxima temos mesmo de montar!
De volta ao parque de merendas, três litradas de água pedidas pela caminhada ao sol e tchux, água outra vez. Desta vez com mergulhos mais audazes e confiança redobrada nas braçadas! Escava-se com as mãos na margem, até abrir um buraco de terra à unha (deus meu, onde estão os adultos conscientes destas crianças?), baldes de água lá para dentro, abrem-se as hostilidades: há uma piscina de lama para explorar! Saltam, patinham, rebolam, esfregam.se, besuntam-se e têm o seu momento de glória. A Maria, aos pulos "Lama! Lama!Lama!", como quem clama por uma equipa de futebol; o Pedro a pegar em mancheias de terra que esfrega sofregamente pelo corpo e todos, todos, a chafurdar na lama e a correr rio adentro para se limparem, sucessivamente, vezes sem conta - os adultos incrédulos, com a cara de ponto de interrogação - ralho ou não ralho; decidem-se pela alegria, filmam e apreciam vê-los TÃO felizes e soltos!
A lama esmorece, mais banho em águas doces. "Uma COBRA!!! Apanhámos uma cobra de água!" As emoções não param. Há gritinhos histéricos, risos e saltinhos - a cobra a serpentear na rede tão agitada quanto eles!
Lanche: pizza caseira, feita pelo pai Reno; melancia e melão frescos, gelados - crianças felizes! Bola, para o dia ser perfeito: primeiro, matrecos; depois, futebol no campo ali ao lado. Este sítio é o céu dos miúdos!
As aventuras não se esgotam: o pai do Diogo, vestido com um fato impermeável, daqueles dos pescadores de verdade, consegue uma truta para delírio dos cachopos!
Há ainda escapadelas para chuveiradas à socapa na rega por aspersão, que é feita por um dispositivo vertical bastante elevado, mesmo acima das cabeças dos catraios. Mais Risota!
Difícil arrancá-los do paraíso! Os adultos ainda tiveram que esperar que a equipa resgatasse um passarinho caído do ninho e o devolvesse, são e salvo, ao lar. Brilhos nos olhos pequenos com íris dilatadas de emoção!

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