Mea culpa, filhotes

Queridos filhos

Há dias em que reparo em vocês e noto que cresceram. O corpo mais comprido, a cara a perder as feições redondinhas de bebés, vocês a vestirem-se sozinhos, a meterem flautas nas mochilas autonomamente, porque é dia de música e eu não me lembrei e vocês já se responsabilizaram pelas vossas vidinhas.

Uma parte de mim fica fascinada, porque já aprenderam tanto e têm tanta vida à vossa frente. Outra parte de mim assusta-se, porque o tempo está a passar tão rápido e não consigo detê-lo. Receio não ter estado sempre atenta, a reparar, e receio que, de alguma maneira, me passe muita coisa ao lado.

Pergunto-me se tenho usufruído o suficiente da vossa evolução; se tenho estado à altura; se vos tenho dado o suficiente; se vos faço feliz...

Tenho uma confissão a fazer!

Eu não sou sempre tão boa mãe quanto gostaria.
Eu quero sê-lo,
e às vezes sou,
mas às vezes não.
Todos os dias cometo erros. 

Às vezes sou exigente, quando devia ser tolerante.

Às vezes ralho, quando vos devia abraçar.

Às vezes interpreto-vos mal. Confundo o vosso sofrimento com queixinhas irritantes, ou a vossa tristeza com mau comportamento.

Às vezes falho mesmo redondamente. Eu sei que falho. Passa-me ao lado.  Dou por mim a falhar e, mais tarde, arrependo-me de não ter reagido de outra maneira.

Falho. Passa-me ao lado.

Falho quando estou muito cansada e vocês levam com os escombros do meu dia. Gostaria que assim não fosse, mas às vezes é.

Falho quando estou stressada. 

Ou zangada.

Ou assustada, com coisas pequenas e com coisas importantes. 

Eu achava que os adultos tinham tudo controlado, mas sabem que mais? Agora que sou adulta vejo que não temos. Às vezes o medo invade o meu coração e esqueço-me do que é importante. Esqueço-me de relaxar e de usufruir de vocês;
de sorrir e de rir;
esqueço-me de me rir convosco.

Falho quando me sinto perdida e sinto-me perdida muitas vezes. Ando às voltas com os meus fantasmas, que não têm nada a ver convosco. Pode ser medo, ansiedade, dúvida, mas não tem nada a ver convosco. Nunca é culpa vossa. Tento lidar com tudo de forma positiva e descobrir o caminho, para que um dia, quando vocês enfrentarem os mesmos obstáculos, eu possa ajudar-vos a ultrapassá-los também.

Quero que isto fique bem claro:
No meio de todos os meus ralhetes, resmunguices e exigências, eu ADMIRO-VOS muito!
Pode não parecer, mas eu eu sinto um grande orgulho em vós!
Quando olho para vocês vejo duas pequenas grandes pessoas.
Corações grandes e puros.
Sentido de humor.
Apreço pela vida.
Sentido moral. Do que é certo e errado.

Entrega aos outros. Generosidade. 

Criatividade. 

Magia.

Sinto que é uma benção ser vossa mãe. 

Por isso, chamem-me a atenção, quando eu pisar o risco.
Quando eu falhar ou magoar os vossos sentimentos.
 Para eu poder dar por ela e emendar-me. E pedir desculpa, no momento exacto.

Porque sou humana e vou errar, e, sabem que mais?
Às vezes, nós adultos, precisamos dos pequenos para crescermos!