Adoro contar histórias, adoro as ilustrações dos livros infantis e adoro as reacções genuínas que a leitura lhes provoca.
São sabidas as vantagens da leitura precoce ao nível da atenção, da competência linguística e do desenvolvimento da criança em geral.
Não usava livros por essas razões.
Lia porque isso faz parte de mim - é uma paixão antiga, que gosto de partilhar com eles.
Era um prazer segurá-los no colo a ler ou a construir histórias, primeiro palavras, muitos sons, cócegas, gestos, depois pequenas frases, sequências narrativas muito simples que eles memorizavam e gostavam de repetir e, mais tarde, contos de verdade. O aconchego, o mimo - uma delícia. Cresceram assim.
De há uns tempos para cá a dinâmica mudou.
Já não leio apenas PARA eles, leio COM eles
e é tão bom!
Chamamos-lhes maratonas de leitura.
Levamos uma pilha de livros para a cama e começa a festa.
Primeiro, aviamos em conjunto uns quatro ou cinco livros de capa dura e ilustrações generosas, que trago da Biblioteca Municipal e que tragamos num instante.
Normalmente sou eu que leio, mas eles às vezes querem participar nos diálogos e então assumem uma personagem ou, outras vezes, assume o Pedro a narração. A Mary ainda não tem a mesma velocidade de leitura, obviamente e, portanto, peço-lhe que leia uma ou outra parte destacada, a negrito ou com letras de grafismos diferentes. Já se aventurou a ler-nos uma inteira em voz alta (curtinha, com pouco texto) e saiu-se muito bem.
Depois, cada um pega no seu livro e lê em silêncio durante uns dois ou três capítulos, dependendo do tardar da hora e da dimensão dos capítulos. Nesta fase, nos primeiros dias, a Maria ia deitar-se, mas agora faz questão de ler também connosco, de maneiras que lá fica ela, a juntar sílaba atrás de sílaba, lenta e pacientemente, até acabar um conto inteiro! Eu considero esta força de vontade dela admirável.
De quando em quando, interrompemo-nos uns aos outros, para trocar impressões e fazer comentários. Não gosto de ser interrompida quando estou a ler, mas, neste caso, adoro que me falem das personagens, da narrativa, dos espaços. O Pedro até já faz comentários sobre o estilo do autor!
"Mãe este é sobre uma vaca que dava leite de chocolate!" (Mary)
"Mãe, ainda bem que este livro apareceu na minha vida. Estou a aprender aqui umas coisas e depois não vais ter de me explicar nada quando for mais velho!" (Pedro sobre uma personagem que estava a receber informações sobre a Sida e métodos contraceptivos).
Especialmente gostamos de perguntar "onde estás?" ou "o que estás a fazer?" - é bom constatar que, sentados na cama, no nosso humilde quartinho, podemos no mesmo minuto estar cada um na sua parte do mundo, a viver experiências muito diferentes. Eu no Irão, o Pedro em Evoramonte, a Maria na floresta, todos a viajar, a imaginar, e sempre juntinhos. Fantástico!
E é isso. Registar que as maratonas de leitura com os meus filhos constituem dos momentos mais serenos e felizes que tenho hoje em dia; que nunca na minha vida de leitora imaginei que viveria esta experiência, que me dá muita alegria e satisfação. É um prazer estar no morninho das mantas, enrolada em pés pequeninos, a ouvir a chuva lá fora, com o nariz enfiado no livro. Neste caso, três narizes enfiados em três livros!
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