Isso quer dizer que serás sempre mais mãe do que outra coisa qualquer. Primeiro mãe do que filha, mulher, esposa, irmã ou amiga. É um lugar comum dizer-te que isso mudará para sempre a tua vida. Vai mudar o teu ser, a tua essência, o teu caminho, de maneiras insondáveis e irreversíveis. Quererás ser melhor pessoa todos os dias. De certa forma, a maternidade é a experiência mais exigente de todas, porque é a que queremos exercer com maior perfeição. Vais ser uma boa mãe. A melhor que o teu filho podia ter.
Terás de responder a perguntas difíceis, tão mais difíceis quanto mais entram no fundo das tuas questões existenciais como os porquês e os para quês, da morte, da vida e do sofrimento, isto enquanto lhe preparas uma sande de fiambre ou descascas feijão verde para a sopa. Terás de "mããããeeee, anda-me limpar" a meio da refeição; dormir com uma mão pendurada num berço e um olho meio aberto para ver se respira - tantas, tantas vezes, a ver se ainda respira - e, mais tarde, serás capaz de despertar de um sono profundo e ouvir uma tosse sua dois quartos, três paredes e três portas distantes de ti. Vais preocupar-te porque come ou porque não come; porque tem (ou pode ter) frio ou calor ou medo do escuro ou da escola ou da água do banho ou do mar ou porque enjoa no carro ou porque quer andar de mota ou porque caiu da bicicleta ou porque tem cólicas pela noite dentro ou porque não quer ir à catequese ou por nada, porque sim.
E, no entanto, serás capaz de viver neste turbilhão de emoções, de te adaptares, de cresceres com isso, de te desviar dos brinquedos, em vez de os arrumares, de deixar o gelado de chocolate escorrer para a T-shirt ou aquela defesa de carrinho impregnar de relva o fato de treino, sabendo que aqueles momentos de felicidade do teu filho te vão sair caros em tempo, paciência e detergente...
Descobrirás que as unhas compridas não são apenas um acessório de moda, mas a melhor arma no combate às nódoas de relva nos calções. Um dia ainda hás-de desejar que volte a esses calções, quando passar à fase de passear a puberdade em cuecas pela sala. Com um corpo que lhe cresceu sem ele nem tu darem por isso.
Que o pior até nem são as manchas da roupa, nem os joelhos negros de brincar na terra e a falta de vontade de cuidar disso. Difícil é conseguir que cresça como um ser humano equilibrado, que seja e venha a ser feliz e a fazer felizes os outros. Hás-de olhá-lo, no berço, e desejar que nada de mal lhe aconteça, obviamente, mas também que aquelas mãos pequeninas nunca cometam crimes, que use aqueles lábios bem desenhados mais para beijar e pronunciar o bem do que para difamar ou magoar. Hás-de viver para essa causa, para ser o melhor exemplo possível, a melhor versão da ti própria, e conseguir educá-lo nesse paradoxo grande que é a vida, pois queres que seja competitivo, sem ser agressivo; que seja comunicativo sem ser aborrecido; que seja sincero, sem ser inconveniente; que seja lutador, sem prejudicar ninguém; que seja educado, sem perder a espontaneidade; que tenha sentido de humor, sem ser bombo da festa; que tenha bom coração e bom senso; que seja inteligente, sem perder a criatividade; que seja opinativo, mas saiba escutar; que seja solidário, sem se esquecer de si; que brilhe, sem ser vaidoso; que goste de si próprio, sem ser egocêntrico; que seja generoso, sem ser esbanjador; e,e,e, e... poupado, sem ser forreta; que saiba ser sonhador, mas com os pés no chão; que goste de partilhar, mas dê valor ao que é seu.... enfim, a lista é tão infindável e paradoxal como a própria tarefa e a maior ironia e contra-senso é que serás feliz ao tentá-lo, por gigantesco que pareça, não só não te demitirás, como farás questão de fazê-lo. Fá-lo-ás sempre bem. Essa é a chave.
Terás de responder a perguntas difíceis, tão mais difíceis quanto mais entram no fundo das tuas questões existenciais como os porquês e os para quês, da morte, da vida e do sofrimento, isto enquanto lhe preparas uma sande de fiambre ou descascas feijão verde para a sopa. Terás de "mããããeeee, anda-me limpar" a meio da refeição; dormir com uma mão pendurada num berço e um olho meio aberto para ver se respira - tantas, tantas vezes, a ver se ainda respira - e, mais tarde, serás capaz de despertar de um sono profundo e ouvir uma tosse sua dois quartos, três paredes e três portas distantes de ti. Vais preocupar-te porque come ou porque não come; porque tem (ou pode ter) frio ou calor ou medo do escuro ou da escola ou da água do banho ou do mar ou porque enjoa no carro ou porque quer andar de mota ou porque caiu da bicicleta ou porque tem cólicas pela noite dentro ou porque não quer ir à catequese ou por nada, porque sim.
E, no entanto, serás capaz de viver neste turbilhão de emoções, de te adaptares, de cresceres com isso, de te desviar dos brinquedos, em vez de os arrumares, de deixar o gelado de chocolate escorrer para a T-shirt ou aquela defesa de carrinho impregnar de relva o fato de treino, sabendo que aqueles momentos de felicidade do teu filho te vão sair caros em tempo, paciência e detergente...
Descobrirás que as unhas compridas não são apenas um acessório de moda, mas a melhor arma no combate às nódoas de relva nos calções. Um dia ainda hás-de desejar que volte a esses calções, quando passar à fase de passear a puberdade em cuecas pela sala. Com um corpo que lhe cresceu sem ele nem tu darem por isso.
Que o pior até nem são as manchas da roupa, nem os joelhos negros de brincar na terra e a falta de vontade de cuidar disso. Difícil é conseguir que cresça como um ser humano equilibrado, que seja e venha a ser feliz e a fazer felizes os outros. Hás-de olhá-lo, no berço, e desejar que nada de mal lhe aconteça, obviamente, mas também que aquelas mãos pequeninas nunca cometam crimes, que use aqueles lábios bem desenhados mais para beijar e pronunciar o bem do que para difamar ou magoar. Hás-de viver para essa causa, para ser o melhor exemplo possível, a melhor versão da ti própria, e conseguir educá-lo nesse paradoxo grande que é a vida, pois queres que seja competitivo, sem ser agressivo; que seja comunicativo sem ser aborrecido; que seja sincero, sem ser inconveniente; que seja lutador, sem prejudicar ninguém; que seja educado, sem perder a espontaneidade; que tenha sentido de humor, sem ser bombo da festa; que tenha bom coração e bom senso; que seja inteligente, sem perder a criatividade; que seja opinativo, mas saiba escutar; que seja solidário, sem se esquecer de si; que brilhe, sem ser vaidoso; que goste de si próprio, sem ser egocêntrico; que seja generoso, sem ser esbanjador; e,e,e, e... poupado, sem ser forreta; que saiba ser sonhador, mas com os pés no chão; que goste de partilhar, mas dê valor ao que é seu.... enfim, a lista é tão infindável e paradoxal como a própria tarefa e a maior ironia e contra-senso é que serás feliz ao tentá-lo, por gigantesco que pareça, não só não te demitirás, como farás questão de fazê-lo. Fá-lo-ás sempre bem. Essa é a chave.
E vais ser mãe de um menino.
E isso é maravilhoso.
Terás de lidar com a testosterona, as birras, a impulsividade, a energia, as fúrias e os odores corporais de adolescente e isso vai trazer toda uma nova dimensão à tua vida. Às tropelias pela casa, aos pinotes e aos encontrões já tu estás habituada pela vivência continuada com os furacões da tua vida: primeiro a Saga, depois a Lis e, agora, a Lita. (ufff és mesmo resistente!). Mas agora terás de aprender nomes estranhos como Beyblades, Invizimals ou Pous. Aparentemente o primeiro é uma espécie de pião da contemporaneidade, o segundo são cromos e o terceiro um bonequinho. No entanto, não é tão simples assim: é tudo meio electrónico-tecnologico-virtual e, ou abraças com agrado a modernidade das coisas, ou ficas, como eu, quase sempre de fora das brincadeiras. Porque os cromos têm aplicações electrónicas, o Pou tem de ser alimentado virtualmente e os Beyblades fazem umas luzes psicadélicas, que, para mim, são sofisticação bastante.
Terás conversas interrompidas, riscos nas paredes, sapatilhas mal-cheirosas espalhadas pela sala, salpicos de xi-xi na tampa da sanita (e arredores), pasta de dentes no espelho e, pelo menos uma bola no hall de entrada. Mais tarde, eventualmente, melhora. É creme de barbear no espelho e um capacete no hall de entrada. As sapatilhas mal-cheirosas, essas, hão-de perdurar a vida toda. Bem como os beijos e abraços à mãe. Violentos, aos empurrões, a força do amor nutrido de testosterona. Não são bem beijos - são cabeçadas ou turras com lábios, não é por mal, é uma força que não se mede, a dos músculos e a do coração de rapaz, menino da sua mãe.
Terás conversas interrompidas, riscos nas paredes, sapatilhas mal-cheirosas espalhadas pela sala, salpicos de xi-xi na tampa da sanita (e arredores), pasta de dentes no espelho e, pelo menos uma bola no hall de entrada. Mais tarde, eventualmente, melhora. É creme de barbear no espelho e um capacete no hall de entrada. As sapatilhas mal-cheirosas, essas, hão-de perdurar a vida toda. Bem como os beijos e abraços à mãe. Violentos, aos empurrões, a força do amor nutrido de testosterona. Não são bem beijos - são cabeçadas ou turras com lábios, não é por mal, é uma força que não se mede, a dos músculos e a do coração de rapaz, menino da sua mãe.
Acabei de ler uma coisa que, tenho essa certeza, me vai acompanhar para o resto da minha vida. Difícil de quantificar o quanto tem de sonho e de real, traduz bem o verdadeiro sentido da vida quando se tem a felicidade de ser abençoado com a chegada de um filho. Cada vez mais sinto honra e orgulho na minha família, apesar de incompleta.
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