sipérdueiti Antis foi purqê tiamava....
àgoratomábeibi aistuais consiquênciais...
Não estávamos à espera de ouvir o "Wake me up before you go" do George Michael, o "What a feeling" da Irene Cara ou o "Hurts so Good" de Mellencamp, mas também não há paciência para as kizombadas de mau português e para espaços cheios de homens pançudos de cerveja na mão a alimentá-la! E também não há paciência para o clima de engate descarado foleiro e descharmoso que adensa o ar fumador e os jogos de luzes de talho suburbano...ou será para enquadrar as pré-adolescentes desmamadas maquilhadas alma acima desde o umbigo à mostra até aos piercings mal pregados? Não nos interpretem mal, sem moralismos retrógrados, quem não estava bem ali éramos nós, ó cotas. É como diz o outro, "não há loiça para lavar em casa?" Se calhar tudo batia certo, o que a gente não estava era no nosso habitat natural, mas adiante.
Vamos às aprendizagens. Afinal o que está a dar "na noite" é sair de boné com autocolante e fato-de-treino, daqueles em que as calças parecem fraldas e lhes encurtam as pernas. A eles. Afinal ter "swag" é usar sutiãs pretos por baixo de tops brancos e usar cintas subidas em calças que não disfarçam a celulite precoce para corpos ainda sem partos. Os delas. Afinal ser "in" é estar sentado a uma mesa, em grupo, cada um com o seu telemóvel em riste. (Dá que pensar, estarão a falar no chat uns com os outros para contornar os decibéis ou estão a assistir ao último debate político para, depois, acertarem agulhas nas intenções de voto do gang em peso?).
bailaaaandooo, bailandooo
tu cuerpo y el mio llenando el vacio
subindo y bajando
Quase não se vê ninguém efectivamente bailando.
Os rituais tribais são outros.
Encostar-se ao balcão e esfregar os peitorais à espera que mais alguém repare que os têm insuflados de esteróides anabolizantes. Eles.
Tropeçar nos saltos (as que arriscaram encostar as sapatilhas iguais às deles) e ir penduradas nas amigas até à casa de banho para exorcizar o excesso de álcool misturado com cola zero, para não engordar. Elas.
Quando se encontram ou reencontram, eles e elas, temos esperança de os ver, finalmente bailando. Porém, os rituais tribais são outros.
Tirar selfies abraçados e beber shots acelerados. O refrão devia ser: emborcaaaando, emborcaaanndo. Espera, pensando bem, a letra sempre se coaduna:
Con tu física y tu química también tu anatomía
La cerveza y el tequila y tu boca con la mía
Ya no puedo mas (ya no puedo mas)
Quem não pode mais somos nós. Bora pra casa?
E que dizer do pai da miúda que era colega da nossa filha mais velha quando ambas tinham quatro meses de idade? Pois é! De dia, profissional de seguros, de noite um macaco com cio, com o grão na asa e o gargalo da mini na boca. O olhar turvo, provocador. Qual George Clooney! Nem sequer o Zé Cabra conseguia fazer melhor. É que se ao menos segurasse um copo de absolut citron... ainda dava para meditar, mas nada!
You are a dancing queen, young and sweet, only seventeen...
E vai desta aparece a fedelha a pedir-nos o tampão para estancar o sangue que lhe escorre perna abaixo. Vida maldita. Apetece dizer-lhe tampão não tché. Só cuecas de gola alta e pensos higiénicos XXL para absorção noturna. Não entende, a coitada. Ainda não pariu, não sabe o que é um fluxo. Em contrapartida, aos 15 anos sobeja-lhe a celulite a trepidar nas coxas desnudas, anafadas e engatadas nuns ténis rasos sem sal ou pimenta. Onde estão as saias travadas, as blusas apertadas e os saltos altos de fazer cortar a respiração?
Vamos até ao bar. Caipirinhas? É lá ao fundo. Não há Tom Cruise atrás do balcão. Servem-nos um sumo com sabor a lima e aroma de cachaça. Não chega para ver o Patrick Swaize na pista de dança, o Travolta e a Olívia Newton Jonh. Nem sequer uma miragem!
Ó saturday night fever sem febre nenhuma!
A páginas tantas, elas cansam-se. Invadem a pista de dança e... dançam. Abraçadas umas às outras. A disco foi transformada num baile da aldeia. Há novas e cotas. Nenhum deles tem coragem para quebrar aquele abanar de anca.
Dançando lambada ê, dançando lambada lá... versão século XXI
Mas o melhor mesmo é o mobiliário típico. Aquele que nos acompanhava há 20 anos e que continua a sair todas as semanas. Peter Pans cheios de estilo. Camisinha justa, conversinha atrás da orelha, sapatinho de verniz com pala comprida e muito inglês a enrolar-se na boca para dar a volta às miúdas do Erasmus. Haja paciência. Foi para isto que saímos de casa?
Foi. E foi desmotivante e foi divertido. Só não dá para aguentar o smell a tabaco a tresandar na roupa e no cabelo. São quatro da manhã. O vizinho do segundo que se lixe. Vamos para a banheira limpar o triunfo dos bardinos. Gosto mais do cheiro a Ultra Suave e do gel de coco espalhado no corpo.
A minha cama é de sonho no universo. Há sais de frutos no armário, mas nem lhes preciso tocar!
por Marta Pereira e Sílvia Brandão
por Marta Pereira e Sílvia Brandão