Saturday, June 17, 2017

A trágica história do Benfica cá em casa**

"Ah! O Benfica morreu!"
"O Benfica morreu!"
"Mariaaaaaa, o Benfica morreeeeeeu!"
"Não acordes a tua irmã, o bicho deve estar a dormir!"
"Não, não que ele está assim... (gesto de bicho esparramado na caixa) e está todo castanho e deitou uma baba pela boca!"
(penso: fritou!)
"Se calhar é para fazer o casulo, deixa-o lá..."
"Não é nada. Não entendes? Morreu! Mariaaaa..... anda ver, o Benfica morreu de verdade!"

O vaticínio intuído e proclamado cumpriu-se. (** esta história é a sequela desta aqui)
A Maria acorre  ao local da ocorrência. Ambos testemunham a inactividade, miram, remiram, bulem; procedem às perícias legais que confirmam o óbito.

A Maria vem para dentro, senta-se a fazer um desenho, que lhe demora um bom pedaço. Estou na cozinha a fazer sopa, quando mo entrega, agrafado em duas pontas. Diz-me "lê tu e depois dá ao pai"
e foge para o quarto a correr.

A acusação


Transcrevo:
O BENFICA    O BENFICA
ele morreu porque de noite acho Pedro foi lá mexer porque se chamava BENFICA
ele é forte não pode morrer é forte é forte eu tanho saudades dele não pode morrer já não pode ele é um bicho amigo coaze o meu melhor amigo tanho muita pena lembro me bem quando a professora fatima me deu o bicho da ceda.
se foste tu mãe ____      se foste tu pai ____


Claro que me comovi com a força desta perda e fui ter com a minha filha ao quarto, onde a encontrei, de cara enterrada nas almofadas. Fiz-lhe umas festas nos caracóis e tentei procurar a coisa certa para dizer, sem parecer demasiado insensível, nem piegas, nem condescendente. Queria validar o que estava a sentir, mas era difícil para mim projectar-me na dor da perda de uma lagarta...
Eu, então a tentar consolá-la, ela levanta a cabeça das almofadas, aponta-me o dedo indicador, franze a sobrancelha e sentencia:
                              "Tu! Tu és a principal suspeita!

A ré
Dá-me vontade de rir, "Euuuu? Mas porquê?"
"Porque não gostavas dela!"
(mais uma vez a dedução faz sentido e faz-me rir, mas defendo-me:)
"Então se fui eu que te deixei trazê-lo para casa e o transportei no meu carro e fui convosco buscar a comida ... quê? estava a alimentá-lo para o matar? E como sugeres que eu tenha feito isso, se eu até nojo tinha de lhe tocar?"




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