Friday, March 4, 2016

Bater a porta

Saí de casa, naturalmente, no fim de almoço para ir trabalhar. 
No entanto, ao bater a porta, gelou-se-me o coração. 
Porque 
me veio à memória 
a sensação que sentia (faz por agora um ano) 
quando
após a hecatombe e
o recobro pesado e 
a alta hospitalar precipitada e
os dias de recuperação sofrida
 (tu, todo coragem e força, a querer resgatar a normalidade, tu, todo travesseiros cama e sofá; tu, cheio de agrafes e dores e almofadas para as não sentir; tu, com um caixote de medicamentos  à cabeceira, umas seringas diárias, uma máquina de medir a tensão arterial, uns iogurtes hipercalóricos para te transformar no corpo que eras antes; tu, com uma série de adereços novos- tão fundamentais, quanto estranhos)

quando
após a hecatombe
e o resto
e o resto
me mandaste regressar ao trabalho
(eu que te via tão frágil
tu que nunca o foste
eu que sentia  medo
tu que o encaraste de frente )
me mandaste regressar ao trabalho
resgatar a normalidade

e eu fui.

E cada vez que ia,
ao bater a porta,
me gelava o coração.

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