Thursday, September 17, 2015

Carta ao meu filho no dia em que aprendeu a andar de bicicleta


Parabéns meu filho. Hoje senti-me orgulhosa de ser tua mãe. 
Não foi um dia perfeito, tu sabes disso. Tiveste os teus momentos, as tuas fúrias, os teus gestos de raiva que tanto magoam o pai e a mãe. Num momento estavas a desatinar com a ficha de matemática, a chutar uma cadeira, a atirar-te para o chão e a responder torto ao pai, a partir um lápis aos bocadinhos com a frustração. No momento seguinte estavas a superar essa mesma raiva, a tua frustração de não conseguir dominar a bicicleta, a cair e a por-te de pé, repetidas vezes, sem desistir, aos resmungos, mas sem desistir, até ganhares confiança e equilíbrio. Nessa persistência ganhaste o teu desconforto, a insegurança. Venceste. Com umas mãos amigas e toda a tua coragem e insistência, conseguiste. Muito bem.
Sabes, quando eu era pequena também tive dificuldade em aprender a andar de bicicleta. Caí muitas vezes até aprender. Tinha um pouco de medo, dava-me aquele frio na barriga que eu já te contei que não gosto muito... Lembro-me que me custava equilibrar-me e depois de arrancar tinha dificuldade em parar. Quase sempre atirava comigo para um lado e com a bicicleta para o outro. Era de rir. Também me lembro de ir em cima da bicicleta, meia aos esses, e ver algum obstáculo à frente (um cão, uma pessoa, um buraco ou mesmo uma árvore) e desejar que se afastassem, porque se não eu estampava-me. Também sentiste isso, filho? A verdade é que depois de treinar muitas vezes, sem nunca desistir, lá aprendi. Como tu. Fica-se tão contente quando se consegue depois de todo o esforço, não é? Olha, vou-te confessar uma coisa: ainda hoje não sou lá muito boa a andar de bicicleta. Ando meia torta e não gosto quando ganha muita velocidade. Tenho a certeza que vais andar melhor do que eu. Por isso tenho orgulho em ti amor.
Pensando bem também tive momentos em que desesperava com os exercícios de matemática. Porque eu tinha dificuldade em perceber aquilo assim logo à primeira e ficava impaciente e irritada por não estar a conseguir. Mas depois, como era teimosa, não desistia. Metia na cabeça que tinha de aprender a fazer aquilo, nem que demorasse muito tempo e tivesse de repetir mil vezes. Depois de muito esforço e de errar muitas vezes lá começava a acertar. E era uma sensação tão boa! Chegava aos testes e sabia tudo. Sentia-me muito feliz comigo própria! Sabes como é? Não deves saber porque tu não tens dificuldade nos exercícios, o que tens é pressa de ir brincar e enervas-te porque queres acabar depressa e já nem te consegues concentrar, não é?
E, pronto, a partir de hoje ainda tens mais um motivo para gostares de ir ao parque, mais uma maneira de te divertires e de gastares energias! Não tarda vais andar tão depressa por ali às voltas que eu ainda me hei-de preocupar e ser uma chata sempre a dizer "cuidado, Pedro, podes cair". Aprendeste a andar de bicicleta, filho - parabéns. Vais aprender tantas coisas mais e isso é tão emocionante!
Espero que também tenhas aprendido hoje, filho, que hás-de conseguir sempre tudo aquilo por que te dispuseres lutar. Com essa mesma garra e determinação. Apesar da lama nos joelhos e dos arranhões nas mãos. Até os exercícios de matemática. Até a dificuldade de "pôr em palavras o que estás a sentir", como a mãe te costuma dizer. 
Sabes, ao ver-te avançar naquela bicicleta, muito maior que tu, primeiro aos ziguezagues, pouquinhos centímetros, depois mais controlado e distâncias maiores, senti muito orgulho em ti. A tua energia, a tua vontade de não desistir. O brilho nos olhos. Foste tão longe - até lá cima à ponta do parque! Senti, ao ver-te avançar sozinho naquela bicicleta do teu amigo que irás sempre muito longe. Rodeado de amigos, com uma pequena mão amiga que te larga logo, a palavra certa para te motivar e toda a tua vontade de vencer, hás-de conseguir ir muito longe, filho. Oxalá eu esteja sempre à altura de te dar a tal mão amiga, de te largar no momento certo e de te dizer a palavra certa que despoleta essa vontade de vencer. 










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