Ando a ler o quinto livro de crónicas do Lobo Antunes. (Não podia ter vindo mais atempadamente, esta leitura. Colou-se a mim e eu a ela como se estivéssemos estado à espera uma da outra há algum tempo.) A dada altura ele diz que já chorou muitas lágrimas invisíveis e eu, apesar de nunca ter ouvido a expressão, rapidamente percebi o conceito. Também já chorei lágrimas invisíveis, quer das que ficam entaladas no nó da garganta, quer das que voluntariamente forçamos a ficarem penduradas nas pálpebras (sabem como é, vira-se o olhar bem para cima, para que não caiam), quer das que realmente são secas na totalidade, uma negação de si mesmas. Para se ser lágrima dever-se-ia conter água, certo?
Pois dessas, muitas. Não só em mim, mas nos outros.
Hoje vi uma senhora idosa a chorar convulsivamente sob um sorriso amarelo, lágrimas invisíveis por todo o lado, gritos inaudíveis de desespero. Como as detectei? Como as vi? Pelos soluços. Nunca em toda a minha vida tinha visto assim uma expressão de tristeza tão contida. Corpo e voz trémulos, lágrimas na respiração, nos soluços, mas não nos olhos. Toda ela chorava, menos os olhos. Marcou-me muito a visibilidade flagrante daquelas lágrimas invisíveis.
Hoje vi uma senhora idosa a chorar convulsivamente sob um sorriso amarelo, lágrimas invisíveis por todo o lado, gritos inaudíveis de desespero. Como as detectei? Como as vi? Pelos soluços. Nunca em toda a minha vida tinha visto assim uma expressão de tristeza tão contida. Corpo e voz trémulos, lágrimas na respiração, nos soluços, mas não nos olhos. Toda ela chorava, menos os olhos. Marcou-me muito a visibilidade flagrante daquelas lágrimas invisíveis.
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