Um dia havemos de encontrar uma solução. Eu, o pai, o meu mais velho e as birras dele (e as nossas), a irritabilidade, as mudanças de humor e a resmunguice, o nervoso miudinho, as ansiedades e as respostas tortas, a ira, a frustração e a atitude desafiante.
Tudo à mistura faz-nos a vida num inferno. Há dias em que penso não aguentar. Não há tranquilidade em casa. Qualquer rotina simples é foco de discórdia e confronto. Dir-se-ia que não lhe impomos regras, ou que impomos de mais. Já ouvi ambas, mas a verdade é que nenhum palpite sobre o nosso estilo parental tem feito muito pela nossa qualidade de vida, pela sua maturação, pela nossa harmonia. Nem as horas de leitura e reflexão sobre parentalidade me têm ajudado a mudar o rumo das coisas. As teorias que me fazem sentido no papel, mas que, na prática, ou por falta de sapiência da nossa parte ou paciência da minha, se revelam inconsequentes ou inconsistentes com o meu filho.
Tentámos de tudo. Castigos, palmadas, conversas, negociações, time-outs, quadros comportamentais, reforços positivos, subornos, ameaças, gritos, silêncios. Nada parece resultar. Nada parece domar aquele furacão, aquela insatisfação permanente, aquele mal estar com o mundo. Que se passa com o meu filho? Que lhe falta para ser uma criança feliz, em paz consigo mesma, colaborante e empática?
Tropecei nisto http://lemonlimeadventures. com/decoding-everyday-kid- behaviors/ e comecei a encarar o comportamento do meu filho sob outra perspectiva. E se o "mau comportamento" do meu filho não fosse bem ( ou apenas) isso? E se ele tivesse um especial tipo de sensibilidade, se a sua leitura cerebral dos estímulos sensitivos estivesse, de alguma forma, desregulada? E se todo o mundo físico que o rodeia fosse agressivo para si: texturas, ruídos, cheiros, o toque, o paladar? Eu NUNCA tinha analisado a situação com o prisma dos sentidos e realmente, se o mundo sensível nos for hostil, ou percepcionado como tal, isso, de facto causar-nos-á desconforto, irritabilidade, agressividade, até.
Depois fui aprofundar e em busca de mais sintomas (http://asensorylife.com/ sensory-signals.html e
http://spdfoundation.net/ library/checklist.html) e tanta, tanta coisa fazia sentido! O bébé que chorava a toda a hora, que detestava banho, que nem no colo acalmava...O verdadeiro martírio para se vestir de manhã, desde sempre, e cada vez pior, as costuras das meias, o desconforto dos sapatos, os cordões, os botões, as molas e os fechos... o ver televisão colado ao ecrã muito alto, ou pendurado de cabeça para baixo no sofá, a necessidade de ter objectos não comestíveis na boca ( lápis, o papel, as borrachas, os casaco), a necessidade de encher a boca com muita comida, o atirar-se contra as paredes, a aversão a algumas texturas em bébé (relva, areia), as queixas constantes por este ou aquele cheiro ("cheiras mal, mãe!") e pelo excesso de luz... tudo lido por nós como falta de educação, falta de respeito pelo outro, desobediência ou impertinência. E, se, realmente, ele estiver em luta com o mundo exterior e consigo próprio e, depois com todos nós por inerência?
Esta hipótese acrescentou insight à forma como interpreto o meu filho e as suas atitudes, mas não acrescentou paciência eterna ou know-how para lidar com o problema. Nunca tinha ouvido falar de "Sensory Processing Disorder", não sei se é esse o diagnóstico e não sei como vou conseguir levar este barco a bom porto. Há dias assim. Sinto que precisava de ajuda. Nem sei onde a hei-de procurar, mas o meu espírito positivo diz-me que havemos de encontrar um caminho. De muita paciência e um amor incondicional. O maior que alguma vez senti - o que me faz repensar-me toda, mudar de temperamento, limar arestas de carácter por ele. É um desafio. Havemos de superá-lo.
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