Thursday, March 26, 2015

Sem MEIAS medidas!

Tenho de fazer um desabafo: a hora do meu filho se vestir é um martírio! O que quer dizer que, habitualmente, tipo todos os dias, começamos MAL o dia! Isto há-de acabar mal, um dia vão ouvir falar de mim nas notícias e a culpa vai ter sido das MEIAS! Ele é muito sensível às roupas, aos tecidos, às meias! Todos nós temos as nossas particularidades sensoriais: a esta ou aquela textura na comida, a certos ruídos ou luzes, muito comummente às etiquetas ou a camisolas muito felpudas. No limiar do espectro  da sensibilidade estarão aqueles miúdos com Desordem do Processamento Sensorial com extrema sensibilidade ao som, por exemplo, ou que até reagem mal ao toque. O meu filho  não tem isto, mas no que toca à roupa está na borderline e já vem sendo assim há muitos anos. 

Sabem qual é o problema das MEIAS? Estão a ver aquela costura que passa por cima dos dedos? Bem vindos à fonte de todos os males na nossa casa! Essa costura já causou mais birras e lágrimas do que qualquer outro motivo. Diariamente ele experimenta quatro, cinco, seis pares, em desespero, lavado em lágrimas e não há umas que lhe agradem. Chegamos muitas vezes tarde à escola por causa disso. Ele chega a estar vinte minutos para se calçar: ajeita, ajeita, muda, endireita, descalça, torna a tentar... às vezes tenho de me irritar, enfiar-lhe o primeiro par que encontro (e que obviamente o incomoda!) e obrigá-lo a sair de casa para a escola, num pranto. Hoje o pai esteve 15  minutos para o calçar para ir ao futebol - as do futebol, então, mais grossas, com costuras mais fortes, eu acho que ele só as tolera mesmo porque a paixão que tem pela bola supera o incómodo que lhe provocam! É um desespero, já dei por mim a pensar, mas para que raio servem as meias: é para absorver o cheiro?ou para os sapatos não nos fazerem bolhas nos pés? Que raio, qualquer dia vai sem elas! Ou corto-lhes a parte da frente, pronto, acabam-se as costuras! 

O CALÇADO não é mais fácil! Quando vamos tentar comprar umas sapatilhas (sapatos está fora de questão), temos birra certa para experimentar e uma grande probabilidade de não trazer nenhumas para casa. Há sempre um "altinho", "uma coisa aqui que eu consigo sentir" ou algo que "magoa". Nas raras ocasiões em que encontra algo que gosta, festejamos como se não houvesse amanhã e trazemos para casa, na dúvida, porque nunca fiando. Já chegamos a comprar, por escolha dele e, depois, por algum motivo que nos transcende, tornam-se as piores sapatilhas do mundo e não as quer calçar nunca. Para o fazer é uma batalha. 

Depois ainda há OS CORDÕES! Têm de ser "da maneira certa", que, segundo me apercebi é tão apertada até não correr o sangue ou a ponto de rebentar os cordões. E nunca ficam bem. Nunca é suficientemente apertado para ele. Ou os cordões estão grandes de mais, ou estão para este lado, ou não é com tantos nós... Uma vez o pai enervou-se tanto com uns cordões, que, depois de os ter apertado, desapertado e reapertado umas dez vezes, zás, deu-lhes uma tesourada. Pronto, estão do tamanho certo. Suponho que isto possa ter sido traumático para as neuroses dele com calçado, mas, sinceramente, é esgotante lidar com isto todos os dias!

Gostaria de ajudá-lo, mas nem sei como. Às vezes chora inconsolavelmente, vejo que se sente desconfortável e nem consegue verbalizar porquê ou como podemos ajudá-lo a compor o que não está do jeito que ele quer... Li algures que virar as meias do avesso podia ajudar, mas também não quer...Uma coisa já me ocorreu, da próxima (raríssima) vez em que um par de sapatilhas lhe agradar, vou comprar os três números seguintes para ter em stock!!!
Tenho esperança que, com o tempo, a maturidade surja e ele desenvolva mecanismos de auto-regulação e estratégias para lidar com o problema.

Entretanto, há que ter paciência. Apesar de ser frustrante e irritante, tenho de manter presente que ele não pediu para ser assim, que está aflito e a fazer o seu melhor para lidar com o desconforto.  Por muito exigente que isso seja para com os meus nervos em franja, tenho de me controlar para o ajudar. Não deve haver nada pior para uma criança desesperada do que sentir que os pais ainda censuram isso. Vou tentar isolar o sentimento de frustração que o miúdo está a sentir, da birra que está a fazer. Dizer-lhe que compreendo que se está a sentir mal, mas que não é aceitável berrar ou fazer birra. E, bora lá experimentar outra meia, vais ver que esta não dói nada... ("dói dói, doem todas, mãe")




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