Tuesday, July 19, 2016

Conflito entre irmões!!!!

Eu devia ter adivinhado que as disputas entre manos se perpetuariam no tempo, logo quando dei com o Pedro, de punhos cerrados, junto ao berço da recém-chegada... ou deveria ter deduzido pelo facto de ela ter aprendido a andar ao empurrão... (muito gostava ele de a ver cair de fralda estreme no chão, para novamente se erguer agarradinha ao sofá!) 
 Eu devia ter percebido, aquando do desfralde da Mary, que a reciprocidade de afectos daria pano para mangas pela infância fora, naquela acusação peremptória... ela, aflita, a já não chegar a tempo à função, com uma mão no tampo da sanita, outra nas cuecas molhadinhas, muito aflita (normalmente controlava-se muito bem, raras vezes, se não nunca, se descuidava...) e eu: "Ohhh!Então, filha?" e ela, sem pestanejar: "Foi o MANO!"

Pois claro. A culpa é sempre dele.
 Eu devia ter percebido então.
Que o "ela-é-que-começou", "ele-fez-primeiro" ia ecoar por estas paredes fora ad eterno...

E era apenas o início da saga.
São sempre discussões ÉPICAS!
Por motivos de lesa pátria!

1) Ela está a respirar o mesmo ar que eu!
2) Ele tocou no meu lado!
3) Ela está na soleira do meu quarto! (já nem é porque lá entrou...)
4) Ela está a OLHAR para mim!
5) Ele chamou-me bebé!
6) É meu!!!
7) Eu peguei primeiro!
8) Ele cuspiu no gelado só para não me dar um bocadinho!
9) Ela escondeu o comando para eu não mudar de canal!
10) Ele quer beber no copo  cor de rosa!
11) A coca-cola dela tem mais bolhinhas que a minha!

O carro e as viagens dão todo um outro capítulo.
Já não basta o refrão individual - ou em stereo - do "quanto falta?", "falta muito para chegar" em cada um dos cinco minutos das longas viagens de quatrocentos quilómetros... há também: as cadeiras, a escolha do cd, o LADO,  os pés, os cotovelos, o pescoço, whatever no lado errado...
E quando os adultos in command pensam que solucionam a coisa descobrindo a pólvora e dando um tablet a CADA UM...
Ah! Ingénuos!
Ah! crentes!
Isto é uma guerra secular!
Um competir visceral!
Uma disputa vital!!!!
É porque o som do tablet dele está mais alto, é porque já passei de nível e tu não, é porque esse jogo é de meninas e um etecetera até ao destino que nos agita os fígados e põe os nervinhos em franja!!!


Porque a questão que se impõe é: COMO, por Deus, COMO mediar tais intermináveis disputas?
Se não, vejamos:

"Mããããeee, ele está a dizer  que  eu sou burra!"
"Ignora-o!"
"Vou-te ignorar."
"Não, não vais!"
"Sim vou!"
"Não, não vais!"
"E sim!"
"E não!"
"M
ãããeee! Ele não me deixa ignorá-lo!"
(aggghhhhhhhh)

NÃO. TEM. FIM.

Um gajo acaba por perder as estribeiras  aplicar com a máxima razoabilidade o princípio supremo da justiça cega que consiste em 
não ouvir razões 

rematar com um gordo cada-um-para-o-seu-quarto, 
que, vá-se lá entender os deixa - a ambos- descontentes, vítima e agressor, 
porque (mistério dos mistérios) eles queriam estar juntos!!!!?????

 

Wednesday, July 6, 2016

A Mary vista pelos amiguinhos


AVISO À NAVEGAÇÃO:
Eu chorei quando li. A Mary soluçou quando leu. Ninguém resiste à ternura das dedicatórias no livro de curso:

És linda como uma princesa. Não bates a ninguém... Dás abraços aos colegas e beijinhos. (Fernando)

És linda! Gostas dos meninos todos! Vou ter saudades tuas (Daniel)

Maria, és bonita e gostas de dar abraços... Fazes desenhos bonitos (Afonso)

És bonita e princesa... pegas em todos ao colo, nos pequeninos - aos grandes não porque pesam... (Cristiano)

Tu és a minha melhor amiga! Tu sempre brincaste comigo. Gosto muito de ti. És muito bonita... fazes desenhos bonitos. Deste-me um colar e uma pulseira e fiquei muito feliz. (Ana Maria)

És uma menina que se porta bem. Tu brincavas sempre comigo, foste muito minha amiga. Ajudavas sempre os meninos. Vou ter saudades tuas (Ana Lia)

Maria, és muito meiguinha, muito querida e muito, muito mais querida. És um amor e eu sou muito tua amiga. Gosto muito de brincar contigo no parque. (Beatriz)

És bonita! Sabes escrever o teu nome no quadro das presenças. És uma princesa. Ajudavas os mais pequenos... Pintas muito bem. (José Diogo)

Gosto muito de ti porque és uma princesa... Tens vestidos muito bonitos... És minha amiga e eu sou tua. (Soraia)

Gosto de ti, trabalhas muito bem. Beijinhos para ti. (Gonçalo)

És engraçada e divertida. Sempre gostaste de ajudar os mais pequeninos. És muito querida comigo e simpática. (Tiago) 

Tu és linda e a tua cara tem brilhantes... És linda como um coração. (Lara)

És bonita e princesa... beijinhos (Estevão)

És uma princesa, vou-te comprar uma coroa. (Gabriela)

És bonita, és uma "riqueza" (Mateus)

És muito bonita! Gosto muito de ti! (Íris)


Mary Fit!

Hoje de manhã a Maria optou por ficar em casa a tomar o pequeno almoço nas calmas, em vez de ir às férias desportivas, que tanto adora! Não sem antes se assegurar de que a levaria lá de tarde, pois era dia de piscina! O escorrega azul, o grande escorrega azul! Este ano foi a vez dela! 
"Já tenho pé na piscina média, mãe, se andar assim aos saltinhos, com o pescoço esticado para cima!"

Então, fomos as duas ao ginásio! 
Eu ia fazer uma aula de GAP (glúteos, abdominais e pernas) sempre com cargas, por isso avisei-a que ia usar uns pesinhos mais pequeninos (porque adivinhei que quereria usar alguns e se recusaria a fazer sem nada!) e que, sempre que quisesse podia pousar os pesos ou mesmo parar para descansar!

Qual quê! Melhor parceira de treino não podia haver! Fez a aula todinha, sem desistir, nem intervalar (mais do que o indicado pela monitora) e sempre determinada e atenta para executar os exercícios correctamente!
Bem que eu lhe ia sussurrando descansa agora um pouquinho, se quiseres repousa e tal, mas ela NÃO! Tudo, alongamentos e tudo. No final da aula ainda experimentou o trampolim e a passadeira e, se a não arranco de lá, explorava as máquinas todas da sala de musculação!

Grande Maria, fiquei mesmo orgulhosa da minha pequenina. Tem a garra dos pais!

Sunday, July 3, 2016

França!

     Para escapar ao festival à porta de casa, um tal de Water Slide que consiste em escorregar em bóias gigantes por uma rua em espaço urbano, com música de gosto duvidoso em altos berros, decidimos fugir. Não nos agradava a ideia pouco higiénica, estrada acima, estrada abaixo, nem o ambiente carrinhos de choque. Fomos para o campo.
Para as crianças foi um dia em cheio. A aldeia de França é um pequeno paraíso em pleno Parque Natural de Montesinho: as águas limpas e frescas do Rio Sabor e as sombras frescas de árvores milenares (que, naturalmente, não sei nomear) fizeram as delícias de miúdos e graúdos.
     Pelo caminho, explicámos às crianças - no nosso carro vinham o Pedro, a Maria e o Henrique -que, no passado era necessário fugir de Portugal, por não haver liberdade, por causa de um senhor de quem já tinham ouvido falar na escola ("o Salazar", chutam). Então, as pessoas "davam o salto", isto é tentavam passar a fronteira pelo monte, para ir para França. Pediam ajuda a uns senhores que conheciam os percursos e recebiam dinheiro pelo serviço de os guiar até ao destino. No entanto, alguns destes "ajudantes" aldrabavam os "clientes" e, ao chegar à aldeia de França afirmavam ter chegado ao destino. Custou-lhes acreditar que as pessoas pudessem ser ludibriadas dessa forma. Naturalmente, geração pós-google-e-GPS!
     Enquanto se fazia a "assadura da carne" no churrasco do parque de merendas, as crianças tomaram o primeiro banho, ao final da manhã. Primeiro, a estranheza - águas gélidas a que não estão habituados, a frescura de uma água perto da nascente do rio surpreendeu os meninos habituados a piscinas e mares do sul. Depois, a estranheza do solo - ai que pica, ai que escorrega, ai que não é areia, ai que são pedras, ai que tem lodo e girinos e até um sapo! Depressa o "E se tem bichos?"do Pedro se transformou em braçadas satisfeitas, galhofa e mergulhos gulosos.
     Há um menino que se junta ao grupo: acham piada - um amigo que veio de França para França!
     A seguir, churrascada - uma mesa colorida, saladas frescas, sumos que se refrescaram banhados nas próprias águas fluviais, batatas fritas, carninha e alegria! Fruta engolida na voracidade de ir brincar!
      Manta. Jogos e cartadas à sombra, pescar peixinhos com redes! A euforia com que se encheu um balde deles!!! Todos juntos a vibrar com a experiência. Rapidamente a vontade de voltar para dentro de água se apoderou dos catraios, altura em que interviemos para lhes desviar o foco. Era cedo para banhos, havia que esperar a digestão - vamos ver os cavalinhos no Centro Hípico, ali a dois passos.
      Munidos de cenouras e maçãs, lá foram ter com os equestres amigos. Inicialmente, ai e tal que cheiro, tantas moscas, eles mordem? E, pouco a pouco, mão estendida trémula e hesitante, um misto de receio e entusiasmo, toma cavalinho, toma a cenoura, a maçã é mais difícil, porque raio é tão curta que o bicho estende aquele focinho cheio de dentes grandes e a gente larga logo a maçã para o chão, era haver maçãs em forma de cenouras e toda a gente tinha mais coragem! Feno! No final até feno se consegue dar! Para a próxima temos mesmo de montar!
     De volta ao parque de merendas, três litradas de água pedidas pela caminhada ao sol e tchux, água outra vez. Desta vez com mergulhos mais audazes e confiança redobrada nas braçadas! Escava-se com as mãos na margem, até abrir um buraco de terra à unha (deus meu, onde estão os adultos conscientes destas crianças?), baldes de água lá para dentro, abrem-se as hostilidades: há uma piscina de lama para explorar! Saltam, patinham, rebolam, esfregam.se, besuntam-se e têm o seu momento de glória. A Maria, aos pulos "Lama! Lama!Lama!", como quem clama por uma equipa de futebol; o Pedro a pegar em mancheias de terra que esfrega sofregamente pelo corpo e todos, todos, a chafurdar na lama e a correr rio adentro para se limparem, sucessivamente, vezes sem conta - os adultos incrédulos, com a cara de ponto de interrogação - ralho ou não ralho; decidem-se pela alegria, filmam e apreciam vê-los TÃO felizes e soltos!
      A lama esmorece, mais banho em águas doces. "Uma COBRA!!! Apanhámos uma cobra de água!" As emoções não param. Há gritinhos histéricos, risos e saltinhos - a cobra a serpentear na rede tão agitada quanto eles!
      Lanche: pizza caseira, feita pelo pai Reno; melancia e melão frescos, gelados - crianças felizes! Bola, para o dia ser perfeito: primeiro, matrecos; depois, futebol no campo ali ao lado. Este sítio é o céu dos miúdos!
      As aventuras não se esgotam: o pai do Diogo, vestido com um fato impermeável, daqueles dos pescadores de verdade, consegue uma truta para delírio dos cachopos! 
     Há ainda escapadelas para chuveiradas à socapa na rega por aspersão, que é feita por um dispositivo vertical bastante elevado, mesmo acima das cabeças dos catraios. Mais Risota!
     Difícil arrancá-los do paraíso! Os adultos ainda tiveram que esperar que a equipa resgatasse um passarinho caído do ninho e o devolvesse, são e salvo, ao lar. Brilhos nos olhos pequenos com íris dilatadas de emoção!