Depois de anos, sete e meio para ser exacta, a ouvir da "energia", "força" e "vida" desta criança, eufemismos para não nos dizerem de chofre que consideram o comportamento do nosso filho inadequado ou excessivo, marcámos consulta. Não por concordarmos com estes diagnósticos de treinadores de bancada que, na melhor das intenções, admitimos, nos aconselharam médicos, psicólogos, espíritas e mesmo bruxos. Para mim e para o pai, ele é um menino inteligente, sensível e a aprender, como nós, a gerir emoções que lhe galopam o coraçãozinho maior que o corpo. Porém, desta vez, porque o seu habitual estado de ansiedade despoletou um comportamento que poderia vir a ser prejudicial para a saúde invejável que tem, fomos à médica. Bastou lá irmos uma vez para o Pedro perceber que comer papel, lápis e borrachas era perigoso. Ela fez-lhe um desenho do aparelho digestivo e ele entendeu. Parou. Não que nós já não houvéssemos explicado, mas connosco é aquele eterno espaço de transgressão. Adiante.
Porque o ponto do meu registo não era o roer dos lápis, mas o que o lápis, na consulta, revelou sobre a criança completa, feliz e realizada que o meu filho é. Fiquei orgulhosa da sua resposta; quero que se lembre dela daqui por muitos anos, quando a vida o contrariar.
A médica pediu-lhe que desenhasse a sua família. Lá estávamos: eu, o pai, ele e a mana. Perguntou-lhe qual daquelas pessoas é que ele gostaria de ser e ele, muito pragmático: "Como assim? Eu já sou uma pessoa destas; eu sou este; sou o Pedro!". E ela insistiu, "sim, mas se pudesses ser uma outra destas pessoas da família, quem querias ser?" ... "Ninguém, eu gosto de ser eu, gosto de ser quem sou".
Nada mais do que foi dito me marcou tanto como esta resposta. Bem hajas, filho, pelo amor próprio e a auto-estima! Nunca te esqueças que nós também gostamos muito da pessoa que tu és!
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