Hoje chovia. O dia esteve escuro, a noite caiu rápido, corrida a vento , empurrando água, as sete horas chegaram depressa para ir recolher o Pedro ao clube. Nos dias de futebol há sempre alguma animosidade. Vem sempre excitado do treino, cheio de urgências, fome, sede, atenção. Entra-se em casa, há que tomar banho, quer pão, urgimos o duche, há que fazer os trabalhos de casa, atira-se para o chão, nega-se a colaborar, exigências, más palavras, ameaças - que fiquemos cá no sábado para o torneio, que se formos lá baixo nos chateia o fim-de-semana todo, que não toma banho, que não sai dali... chovia lá fora, travejava cá dentro, com mais ou menos calma e paciência, o impasse resolveu-se, o banho tomou-se, a composição foi escrita, sem ajuda, de castigo - pois os adultos também retaliam, também se enfurecem e também se vingam... e, além do mais, havia piolhos para catar na outra zona estéreo da birra, porque apetecia mais jogar computador do que ir para o banho desparasitar...
A composição escreveu-se. "Mããããiiiim, anda corrigir", agora não posso, estou a pentear, agora não posso, vamos jantar, agora não posso, estou a arrumar a cozinha, lava os dentes, vai para a cama, despacha-te, não achas que já chega de falta de colaboração hoje? Vá, deita-te lá, que se faz tarde.
"Antes de me deitar, não é melhor corrigires os deveres, para, se estiver mal, eu emendar?"
Está bem, pronto, deixa lá ver num instante.
"SE EU FOSSE CHUVA...
Regava o parque da Braguinha para a relva ficar verdinha e ficar parecida com um campo de futebol. E também molhar todas as terras. Caía miudinha e às vezes muito de força. Mas não inundava nenhuma cidade, só a minha mãe."
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