Fomos a uma consulta de otorrino, eu e a Mary.
Ela nem sempre ouve o que lhe digo à primeira, põe sempre a televisão muito alta, teve várias otites em pequenina e como anda na natação... achei melhor despistar.
Na sala de espera ocorre-me que metade daqueles utentes tenham problemas de audição.
A recepcionista, por deformação profissional, e a confirmar a minha suspeita, fala naturalmente muito alto, apesar de atenciosa e despachada. Ela própria estará já a não ouvir tudo, à força de tanto berrar.
Como a coisa está demorada, os pacientes entabulam conversa, não exageradamente alto, mas olhando-se bem de frente, como fazem as pessoas que apoiam a escuta com o olhar.
Assim fazia a minha mãe, que sempre acendia a luz para ouvir melhor o que tinha para lhe dizer. Engraçado, como os sentidos se apoiam! Eu, que sou tremendamente míope, colocava os óculos também para a ouvir melhor, nessas alturas em que a minha mãe acendia a luz para me dar um recado e eu já estava na cama.
A Mary, felizmente, ouve bem.
O que me deixa um outro problema a resolver.
A audição discriminatória. Ou seja, o facto de ela ouvir sempre que se fala em comida, particularmente doces; e de não ouvir se a verbalização tiver a ver com tarefas domésticas. Ela ouve "vem para a mesa", mas não ouve "põe a mesa"!
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