A ceia de natal de 2018 foi especial.
Há muitos anos que queríamos festejar o natal na "nossa casa" com a família.
Primeiro porque existiam mães e sogras com saúde e vitalidade para nos acolher, mais tarde porque essas condições não se reuniam, mas havia que celebrar na mesma, e, no geral, porque em dezassete anos Bragança era longe e sempre descemos o Marão para consoar.
Desta vez, estávamos mais perto e o desejo antigo concretizou-se. A casa encheu-se do cheirinho da canela e do mel; fizeram-se os mexidos, as rabanadas e a aletria; encheu-se pires com uvas passas, frutos secos, tâmaras e figos secos.
E não foi apenas a alegria da consoada; a casa "natalinizou-se" com dias de antecedência e os preparativos trouxeram a antecipação da alegria, a própria preparação da festa foi, em si mesma, uma festa.
A casa viu-se aspirada, varrida, limpa e ornamentada para ficar fresca para a noite santa. Comprou-se um vasinho com uma poinsépia ou estrela de natal. Montou-se o pinheirinho, compraram-se bolas extra e a Maria decorou-o com uma cadeira até mesmo ao alto. Dispôs-se o presépio e uma coroa festiva na porta de entrada. As luzinhas piscavam e já cheirava a Natal.
Comprou-se presentes, fizeram-se embrulhos, ataram-se laços acetinados em papéis vermelhos. Compraram-se frutas e couves e grelos e frango do campo e borrego e ovos. Abasteceu-se a garagem com lenha para que houvesse uma lareira sempre acesa a noite toda.
Teve de se comprar uma bacia grande para pôr tantas postas de bacalhau a demolhar! Era uma emoção! Íamos receber toda a gente!!! A Tia Ana, o Tio Gonçalo, o Tomé; o Bu Mando e a Luísa; a Bó Fatinha e o Tio Tato.
Os miúdos, agora sapientes do segredo do natal, combinaram estratagemas relativos à "chegada do pai natal" para o primo pequeno, contentes por participarem numa incumbência normalmente restrita aos adultos.
No dia anterior à consoada, montou-se uma mesa extra na sala e o pai Reno esteve às voltas a estudar a melhor disposição da mesa para que todos ficassem confortáveis e a sala não perdesse espaço e conforto.
As toalhas de natal foram passadas a ferro e postas na mesa, colocaram-se pratos, copos e talheres mais cuidados. Abriram-se garrafas, encheram-se infusas; colocaram-se grandes guardanapos vermelhos.
Panelas borbulharam na cozinha. O vapor da ceia inundou a mesa e a sala. Risos e brincadeiras; brindes de tinto. Natal. Em família.