No outro dia, à conversa com uma investigadora do sono, fiz uma descoberta retemperante. Ao contrário do meu sono que, na generalidade, não o é. (ou, pelo menos, assim o julgava eu)
Falei-lhe de como são tumultuosas as minhas noites, como me atormentam pesadelos sistemáticos, verosímeis e por vezes até realistas, carregados de tensões da vida real que se repetem enquanto durmo. Como se reproduzisse de noite o que vivo durante o dia. Com a agravante de me lembrar de tudo ao despertar. Gostaria de usufruir de uma noite de efectivo repouso. Ou então da dádiva de não me recordar de nada. Indaguei se os fármacos ajudariam ou se servem apenas para as insónias. É que eu não tenho dificuldade em adormecer, a maior parte das vezes estou em luta com o sono para acabar de ler um capítulo qualquer.
O que eu tenho é dificuldade em Desligar. Apagar. Desactivar.
Sempre considerei isso um defeito. Depois deste insight comecei a ponderar outra perspectiva.
Em primeiro lugar, explicou-me que essa "noite toda" são apenas trinta minutos. Portanto, menina marta, se te sentes exausta depois de uma noite de repouso, vai para a cama mais cedo porque não andas a dormir o suficiente.
Depois, revelou-me que os sonhos são o nosso espaço de limpeza emocional, onde destilamos tudo o que nos preocupa no dia-a-dia e que, normalmente, as pessoas que sonham muito são pessoas mais felizes.
Eu já sabia, da psicologia, da teoria dos sonhos de Freud e da teoria psicanalítica do ego, do superego e do id, o desejo reprimido, o recalcamento, bem que eu já tinha estudado essa tralha toda.
A questão é: eu nunca tinha encarado esse processo de dormir e sonhar como um processo de higienização do meu ego, positivo para a vida acordada. Afinal, sou uma pessoa bem limpinha porque passo a noite toda a aspirar o sótão.
Se esse é o espaço onde vou matar saudades das perdas, enfrentar medos que não assumo à luz do dia, resolver rancores, acomodar frustrações, concretizar libidos recalcadas (lol para este)...
E se esse é o processo que me permite, no meu quotidiano, ser melhor pessoa, ser mais meiga e tolerante com os outros, que me permite evitar conflitos, que me permite não viver amargurada porque já tudo amarguei - limpei, reciclei, higienizei - no sonho,
então seja: sou muito lavadinha na alma e ainda bem que tenho tantos pesadelos, sabonetes das manchas e nódoas com que a encardimos no dia-a-dia.
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