Há um mês atrás comprei um biquíni brasileiro e comi quatro fatias de pizza no mesmo dia. Na altura achei que havia aqui algum tipo de incongruência. Hoje acho que não. Pensei nisso e deu-me vontade de rir, ao comer uma bolinha de Berlim de alfarroba ENQUANTO lia a Women's Health. É que, neste poderoso cartapácio de iluminação espiritual, li, algures, que "os corpos de verão se conquistam de inverno". Então lembrei-me de todos os treinos que fiz nos dias frios brigantinos, lambi os bigodes de açúcar da dita bolinha que, fiquei também a saber, equivale a 600 calorias e refastelei-me um pouco mais na cadeira ao sol, a gozar da minha exceção à perseverança e método que me guiam durante o inverno. Pensei também que isto era um brilhante passo em frente na minha mente a preto-e-branco-tudo-ou-nada. Pelo sim, pelo não, ainda não estriei o biquíni brasileiro!
Os homens das bolinhas varejam as praias à procura de negócio. Coisa mais contra-natura: vender bolos gigantes, fritos e com creme sob um sol tostante, quem diria que era ideia de negócio... se ainda fossem gelados, bebidas frescas, fruta ou mesmo coxas de frango, dir-se-ia que vendia, mas assim, vá-se lá entender a mente humana. A verdade é que a fórmula funciona há bons anos e prospera. Com tradição e inovação. Este ano a iguaria está disponível com recheios que vão do morango à nutela e nas variedades de alfarroba, com e sem creme, como as tradicionais. Variam também no tamanho: bolas XL... o céu é o limite! A mim, que nem sou muito gulosa, essa parafernália passa-me ao lado. Encantam-me os pregões. "Tenho aqui duas bolinhas..." grita o homem para gáudio e respostas apicantadas dos veraneantes. "Uma com creme, outra sem creme!!!"
Em quinze dias de férias rendi-me uma só vez a esse sabor da infância, que - vá-se lá explicar porquê - sabe melhor se viermos molhados, com o sal nos lábios e os olhos a piscar da luz do sol e do excesso de sal. Fecho os olhos. Volto a ser filha, a ter oito anos e a bolinha sabe a pais que abrem exceções para nos ver sorrir. Abro os olhos. Volto a ser mãe e mulher. Quebrar as regras é tão importante como defini-las, só que quebrá-las é mais doce!
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