Eu tenho uma aluna que leva tudo à frente: colegas, professores, tabuleiros da cantina, o que for preciso. Ninguém a detém, ninguém a cala, ninguém a verga. É uma ira, uma raiva existencial que a move.
Sei o que sente.
Compreendo-a e dói-me cada palavrão, cada arremesso, cada birra, como se fossem lágrimas de desespero e desamparo. Dói-me aquela orfandade, aquela juventude roubada, aqueles gestos de fúria que eu acalmaria, se pudesse, com colo, abraços mornos e mãos quentes.
Traz inculcada na pele a precariedade da vida humana, o contra-senso da morte, a finitude e a imediatez de tudo, a urgência de sermos felizes, a voracidade pela vida, a fugacidade da mesma...
Traz inculcada na pele, simbólica e literalmente, a mãe, que cuidou até à morte. Naquela tatuagem, tudo. Uma vida e a sua morte. O amor e a raiva. A saudade e a vingança.
Sei o que sente.Também perdi a minha. Afixei-a em mim também. Trago a sua aliança, no dedo e na alma. Nunca vou achar justo, nem lógico, nem certo, nem nada. Mas pego nessa raiva e transformo-a em vida, em energia, em luta. Os outros que nos rodeiam não têm culpa. Também são frágeis e estão tão sós e desesperados como nós. Todos os seres humanos no mesmo barco, querida, a tentarem ser felizes, a procurarem o seu caminho...
Encontra o teu, se puderes, um caminho da paz, sem conflitos. O amor cura tudo. "Abraçados CONTRA a morte", diz a canção do Abrunhosa. Vinga-te da vida com sorrisos, gargalhadas e afectos. Quando te apetecer gritar, canta - que já te ouvi fazê-lo e, acredita, acendes uma estrela no céu quando o fazes!
(*significado do teu nome)