Quase aposto que vocês estão a pensar que me vou queixar de tampas de sanita que não se levantam ou de rolos de papel higiénico que não se substituem de forma automática, deixando-nos, literalmente, de calças na mão! Podia, mas isso é um assunto de...
O que realmente me assola passa-se na cozinha. Chorai, amigas, mas são públicos os dotes culinários do meu esponjo - portanto não posso fazer eco das vossas lutas pela equidade tarefal. Pelo contrário, quando calha de me meter eu na cozinha, fazendo grande alarido de tachos, testos e panelas, queimando um estrugido (transmontanos vão checar esta ao dicionário braguês) ou deixando transbordar uma água de cozer batatas, o maridão vem logo em defesa da tranquilidade doméstica, dizendo "Saí lá daqui que este não é o teu habitat natural!"
Portanto, não sendo gastronómicos os conflitos, também se prendem com o que na minha terra se chama de "o comer". Confesso, então, que a grande mácula marital cá em casa são "os panos". Esse é que é o grande e incontornável problema da nossa harmonia familiar.
Qual é que é a dificuldade? O próprio nome indica a sua função, certo? Ora sigam-me: pano da Loiça... limpar pratos; pano das mãos? Isso, muito bem! Limpar MÃOS! Continuamos? Pano dos vidros... não se deduz que seja para limpar móveis de madeira com ceras gordurosas de modo a conspurcar o seu branco imaculado, pois não?
Se calhar estou a ser picuinhas, mas a verdade é que a própria textura dos tecidos ajuda a gente a distinguir... é caso para dizer que até um cego conseguia, pelo toque, discernir a flanela de um pano do pó do turco para limpar as mãos! Não?
A verdade é que, por causa destas nossas desavenças panísticas, já dou por mim a esconder panos novinhos, só para mim, para usar em perfeitas condições, nos devidos lugares, com os detergentes apropriados, na medida certa. Reconheço, porém, que os escondo tão bem que, depois, já os não encontro ou me esqueço totalmente de que alguma vez existiram...
Por outro lado, também encontro amiúde panos amarfanhados e besuntados escondidos em lugares recônditos da minha dispensa ou da marquise (marquise é uma palavra que me repugna, mas não me ocorre outra para designar o galinheiro da roupa). Panos amarfanhados, dizia eu, panos de limpeza conspurcados. Mais uma vez, e desculpem a insistência, se a sua função é LIMPAR, não deveriam estar LIMPOS?